Religião masculina

terça-feira, 16 de março de 2010

por Joaquim Tavares


Não é difícil ouvir essa frase, que já virou uma espécie de jargão: ’Brasileiro que se preze tem que gostar de futebol’. E há de se convir que, por mais preconceituosa que possa parecer, essa afirmação diz muito sobre nosso país.

A imagem do brasileiro está impregnada de estereótipos que não se podem desgarrar tão facilmente. Para muitos, o futebol é quase que um sinônimo para Brasil, e isso não deixa de ser um pouco verdade em muitos casos.

A Inglaterra criou o futebol como esporte, mas o Brasil o determinou como o mais praticado do mundo. Esse fato pode ser facilmente constatado nos dias de domingo pelo país a fora. São inúmeros aqueles que têm seu emprego, sua família e, ainda assim, não deixam de jogar suas ‘peladas’, que se tornam quase uma religião.



Em Comendador Soares, por exemplo, existem alguns campos society para aluguel que abrigam diversos grupos que há anos jogam semanalmente.

Gratificante

“São treze anos de pelada. Já mudamos algumas vezes de campo, mas o pessoal é o mesmo”, diz Adilson de Castro, o ‘presidente’ e fundador de uma dessas peladas. ”Tenho um filho de quatorze anos e jogo com ele de vez em quando. É gratificante demais”, diz ele, que tem 45 anos e está casado há 19, mas acha que as peladas são mais estáveis do que as relações amorosas.

Mas nem tudo é festa nessa saudável rotina masculina, que muitas vezes é acusada de quebrar com a harmonia dos casais. É por isso que o bem-humorado representante comercial Marcelo Oliveira Padrão eventualmente falta a pelada para ir almoçar com a esposa na casa sogra. “Depois desse almoço, fica tudo bem”, diz ele, que se sente renovado para a batalha do dia-a-dia depois da ”cervejinha e do churrasco com os amigos no final de cada pelada”, que há oito anos joga com o mesmo grupo.

O estudante de engenharia civil Bruno Motta Buy só tem 19 anos, mas também acha que deve o pique com que encara faculdade e estágio à pela que joga semana há cinco anos. ”Não consigo deixar de jogar meu futebol pelo menos uma vez na semana”, afirma ele, que muitas vezes deixa de namorar aos sábados com a namorada para acordar bem no domingo e ir cedinho para o campo. “Aqui no campo é até estranho, você se esquece dos problemas... relaxa. O stress da semana toda vai embora. Me sinto muito bem, é quase um estilo de vida”.

Na verdade, sempre vão existir as famosas ‘peladas’ por todo o país, reforçando a ideia de o Brasil ser uma nação aguerrida que, mesmo com seus problemas, seu árduo trabalho e sua rotina maçante, arruma um tempo para se divertir e fazer com que sua vida se torne um pouco mais feliz. VIVA AS PELADAS !!!

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