por Hosana Souza
Foi consolidada na última semana a parceria entre o governo municipal e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, que juntos coordenam o projeto Pré-Universitário de Nova Iguaçu. “É uma parceria tão boa, com tantos frutos, que hoje somos convidados por outras prefeituras, para desenvolver o pioneiro projeto em outros locais”, diz Laura Tavares, Pró-Reitora de Extensão da UFRJ.
Esse modelo de incentivo à educação pré-universitária surgiu em 2001, quando o professor Ary Pimentel, atual coordenador do curso de Letras, decidiu desenvolver um projeto que aproximasse a periferia do universo da UFRJ. “Devemos levar a universidade para fora desses muros, para as regiões que não enxergam a universidade como algo próximo”, afirma Ary Pimentel. A primeira experiência foi desenvolvida na comunidade do Caju, que fica próxima ao polo da Universidade na Ilha do Fundão.
No início de seu primeiro mandato, o prefeito Lindberg Farias firmou a parceria com a UFRJ, após observar o projeto do Caju. “O projeto aqui tomou outras vertentes, o Caju tinha uma realidade totalmente diferente de Nova Iguaçu. A ideia e o desejo eram os mesmos, porém aqui nós tínhamos o apoio do poder público”, conta Cleber Neto, atual coordenador do Curso Pré-Universitário.
Inicialmente com nove turmas em um único polo, a Escola Municipal Monteiro Lobato, o projeto teve índice de aprovação próximo aos 15%. Hoje a aprovação no Curso Pré-Universitário de Nova Iguaçu já ultrapassou os 20%, possuindo oito pólos espalhados pelo município, contemplando 1500 estudantes.
“Não se pode negar que o inicio foi bem conturbado, afinal, uma parceria com um governo que incentiva esse tipo de trabalho era uma grande novidade”, explica Cleber. “Contudo, o pior momento do projeto foi a saída do professor Ary, em 2008”. O professor Ary Pimentel saiu do projeto para assumir a coordenação do curso de Letras. “Nessa mudança de coordenação, surgiram mais turbulências. Afinal, o projeto era o filho do professor, tinha a cara dele. E agora, sem ele, como fazer?”, conta Cleber.
A Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ, então, enviou o professor do CAP da UFRJ - Colégio de Aplicação - José Roberto. Físico e grande educador, José Roberto não conhecia o projeto, o que deixou a equipe ficar confusa. Contudo, os resultados não pararam de aparecer. “2008 foi o ano das grandes aprendizagens para a equipe, para os bolsistas, para o projeto”, relembra o atual coordenador. Já em 2009, a coordenação foi assumida por Thiago Cavalcante, aluno de Ary Pimentel e ex-estagiário no projeto no Caju, que passou o posto para Cleber Neto, em 2010.
Bom para os dois lados
Para os alunos do Pré-Universitário, o projeto é uma oportunidade de ingressar na universidade, enquanto para os bolsistas é a oportunidade de se tornar professor. “O projeto me tornou professor”, é a afirmação feita por todos os docentes. “Nós chegamos em sala de aula com uma imaturidade tremenda. O projeto é positivo para os dois lados, eu cresci com o projeto”, afirma Cleber, que atuou de 2006 a 2009 como professor de matemática.
O professor de geografia Leandro Almeida, o coordenador da unidade Rubens Falcão, observa outra dificuldade. “Creio que a maior dificuldade do projeto para os professores é o primeiro momento, em que você tem de nivelar a turma. Seria uma agressão se simplesmente jogássemos o conteúdo, pois nós temos alunos de escolas públicas, particulares e alunos que não estudam há muito tempo”, conta Leandro.
O início lento não compromete os resultados, a cada ano mais expressivos. Um exemplo de dificuldade superada é Maria José, de 63 anos, que retornou aos estudos em 2007 na unidade da Prata. “A nossa relação era como mãe e filho, a força dela era como um incentivo para o meu trabalho”, lembra o professor. Maria José prestou vestibular em 2007 e em 2008 para Pedagogia na UERJ, sem obter êxito. Leandro comenta a surpresa e a alegria ao contabilizar os aprovados de 2009 e encontrar o nome de sua ex-aluna. “Ver o nome dela foi uma alegria muito grande. Tenho certeza que a contribuição dela nas nossas vidas foi tão fundamental quanto os dois anos de aula que aplicamos”.
Semelhanças
Além de todas as características únicas do Curso Pré-Universitário de Nova Iguaçu, alguns detalhes reforçam os laços entre os professores e alunos do projeto. O maior deles é que ambos possuem realidades muito semelhantes. “Eu sou de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro, percebo nos jovens iguaçuanos muito do que eu era. Um garoto de periferia, que estudou a vida inteira em escola pública e tinha o sonho de entrar em uma universidade”, exemplifica Cleber Neto. “Na minha época – 2001 – não existia uma política pública que apoiasse a educação pré-universitária. Não possuíamos sequer um pré-vestibular social próximo”, relembra Cleber. “Eu estudei, estudei e estudei. Fiz um prova para um curso em Campo Grande e ganhei o bolsão. Passei o ano inteiro sem pagar a mensalidade ou os materiais, e ingressei no ano seguinte na UFRJ”, conta.
As dificuldades existem para todos, mas o final dessas histórias não deve ser triste. “Minha vida serve de exemplo, eu nunca passei necessidades, mas infelizmente meus pais não puderam bancar uma escola particular”, complementa Leandro. “Eu tive a oportunidade de ingressar no PVNC em Caxias – Pré-Vestibular para Negros e Carentes. Um pré-vestibular comunitário, que funciona aos finais de semana e que me ajudou bastante. Somando os conteúdos ao meu empenho, eu consegui passar em primeiro lugar na UERJ, e também para a UFRJ, ambas em geografia, preferindo a universidade federal”, explica o professor.
A proximidade das características de vida torna a vitória de um a vitória de todos. “Foi um ano bem difícil, eu participava do Bairro Escola pela manhã, estudava à tarde e participava do pré à noite”, conta Débora Azevedo. “Muitas vezes pensei em desistir, mas a equipe do CPU não permitiu, o tempo inteiro eles me estimulavam. A dedicação deles era tanta que eu pensava: ‘Não posso sair, eles dão o melhor de si e eu tenho que dar um pouco mais de mim também’. É como se meu sonho também fosse deles. Nunca imaginei que passaria assim de primeira, com apenas um ano de pré, mas consegui”, encerra a nova estudante de Serviço Social na UERJ.
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