por Renato Acácio
Os dados não são lá muito empíricos. Afinal, em última instância se trata de um inocente, partindo-se do ponto da honestidade do programa, show de realidade. Mas ao constatar que esse tipo de entretenimento tenha tanta participação no cotidiano do país a ponto de mobilizar 150 milhões de votos, ele merece com certeza algum tipo de leitura, seja ela equivocada ou não.
O gigantesco número, recorde mundial de votos de todas as edições do Big Brother do Brasil e do mundo, aponta por si só algum tipo predileção de entretenimento dos brasileiros. Com certeza, alguns pedagogos, sociólogos, psicólogos e “achólogos” têm alguma opinião formada sobre isso. Uns vão dizer que é falta de uma boa educação, outros apontarão peculiaridades culturais. Alguns afirmarão que é pura e simples falta do que fazer, dentre uma infinidade de interpretações. Mas esse não é o ponto. A questão é que esse programa se tornou algo quase inescapável no dia-a-dia do país, a ponto de que mesmo quem não o acompanha tenha dificuldade de optar por ficar totalmente por fora do assunto. Ele está no trabalho, na faculdade, nos twitters, e segundo o Google, ele é um dos Top10 em pesquisas por internautas brasileiros. Tal onipresença talvez ajude a apontar algum traço da personalidade do brasileiro refletido no resultado do programa e nos meandros até ele.
A militância das minorias
Todo o comportamento das minorias, ou pelo menos boa parte dele, no seu ato político, em relação à maioria, busca no seu modo de organização, não a reivindicação da sua qualidade enquanto minoria, e sim uma superação da maioria. Para ilustrar esse aspecto, tomemos o feminismo, por exemplo. Não é muito raro ouvir mulheres dizendo que fazem tal coisa melhor do que os homens, quando na verdade poderiam afirmar que fazem tão bem quanto eles. Temos os afro-brasileiros vestindo camisetas com os dizeres “100% negro”, quando na verdade somos o país mais miscigenado do mundo. Ou mesmo o movimento LGBT, que promove a parada do orgulho gay, e não a de um possível orgulho humano. Esse caminho que os grupos que se sentem excluídos em algum momento pela sociedade escolhem, pode ter interferido no resultado final do programa e refletido um sentimento comum do brasileiro escondido, ou reprimido, que pode ter sido expressado tanto no recorde de participação popular em um programa de TV quanto na escolha que esse público fez para ser o grande vencedor.
Como explicar a veneração do senso comum por um personagem sem carisma, que não é engraçado, grosseiro e ignorante a ponto de, na era da democracia da informação, declarar em rede nacional com todas as letras que apenas homossexuais contraem AIDS?
Talvez isso seja uma resposta do público ao tratamento da homossexualidade de forma mais aberta na mídia. A verdade é que mesmo que com algumas ressalvas, como o fato de nunca ter sido mostrado um beijo gay na TV Aberta, nos últimos anos deixou de ser raro o debate e a exposição do assunto na mídia de massa, como em personagens em novelas da Rede Globo ou na publicidade, por exemplo.
A “tática de guerrilha” das minorias, no caso, a comunidade LGBT, somada ao amplo debate sobre relações homoeróticas e ainda aos resquícios culturais de uma colonização católica, pode ter provocado um equívoco na consciência popular. O que era pra ter sido uma exposição foi interpretado como uma imposição. Sendo a edição do programa a mais diversa sexualmente falando, o espectador comum viu no vencedor, Marcelo Dourado, um representante de um sentimento do tal equívoco. Um desejo reprimido de expressar que o cidadão representante da maioria, heterossexual, não era obrigado a engolir, se comportar e venerar a comunidade LGBT, quando nunca foi pretensão de tal comunidade isso, apenas o respeito e direitos iguais, apesar da postura política.
Talvez Marcelo Dourado não tivesse tanto sucesso, assim como não teve na quarta edição, quando fracassou, se o grupo escolhido da vez não representasse esse auge da cultura gay, principalmente na música, na moda e no cinema. Auge esse representado por três participantes assumidamente homossexuais, fato esse que nunca tinha ocorrido em edições anteriores. E, por conseguinte, não haveria brecha para o senso comum expressar sua possível deturpada opinião.
É pouco provável que o povo brasileiro seja homofóbico, ao menos no sentido de perseguição a homossexuais, pelo menos. No passado um homossexual conseguiu vencer uma edição do programa, se tomarmos o mesmo pano de fundo, por exemplo. A suposta homofobia do brasileiro talvez resida no mesmo lugar onde reside o machismo e racismo. Ou seja, bem escondidas, mas que vez ou outra vêm à tona em algum comentário maldoso, em uma elite branca que tem diversos amigos negros, mas não admite que a filha namore um, ou da dona de casa que ama o amigo gay cabeleireiro, mas que acha uma tristeza que sua filha goste de outras meninas e onde todos os outros preconceitos residem: Na ignorância.
Homofobia ou ignorância?
sábado, 3 de abril de 2010
Marcadores: Mainstream, Renato Acácio
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1 Comentários:
eu duvido muito de tais resultados que BBB divulgue (Adoraria uma fonte de comprovação desses dados) Partindo desse ponto, penso que a nossa maravilhosa mídia, também tem um papel a cumprir em relação ao comportamento e forma de pensar das pessoas. Disseminação de padrôes de comportamento e direcionamento, quase por osmose, todos os dia na TV. Eu vejo tudo isso como um resuldado de tais inculcações e penso também que nós (povo)sejamos pessoas incrivelmente preconceituosas, ou seja, a capacidade de julgar sem conhecer. Vamos colocar aqui, TODOS os tipos de preconceito, do mais simples e curriqueiro para os mais elevados níveis. Por ex. acho total preconceito olhar um determinado tipo de pessoa e discriminá-lo apenas por sua vestimenta, seus valores VIVEMOS NUM MUNDO DIVERSO,vamos respeitar tasi diferenças. Se pregamos aqui uma análise de consciência, acho pertinente nos atentarmos para os mais simples preconceitos do até chegarmos aos mais caleijados e batidos hoje em dia. O que nós falta é a tal da ética, o respeito,a humanidade e a tolerância.
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