Revistinhas de gravata

quarta-feira, 7 de abril de 2010

texto por Hosana Souza. fotos por Mazé Mixo

Um homem andando sem nenhum pudor, com trajes completamente sociais, faça chuva ou sol – ambos sempre em excesso – pelo centro de Nova Iguaçu é com absoluta certeza algo que chama atenção. Agora, se esse homem, além de roupa preta e gravata, carregar também nos braços mais de cem revistas em quadrinhos não se espante. Você conhecerá Maruan Abreu.

O jovem de 20 anos trabalha com revendas desde os treze; começou por intermédio de um amigo, que lhe apresentou o ramo de empresas atacadistas. “No inicio era mesmo para ganhar dinheiro”, explica. “Mas hoje, vejo aqui muito mais do que mercadorias. É minha vida”, conta Maruan.
Há seis meses vem investindo nos quadrinhos, porém já trabalhou com bolsas, livros, roupas, chapéus, sapatos e doces. Graças aos doces, ganhou fama na Prefeitura, onde passava todas as tardes para vender suas variadas guloseimas. “Eu comprei essas revistinhas, mas eu queria mesmo uma trufa”, brinca a pernambucana Sandra Mônica, assistente social e coordenadora do Bairro-Escola.

Realização

A mudança nos produtos para a revenda se deu pela paixão de Maruan por trabalhar com crianças. Vender quadrinhos seria a realização de um sonho e um tiro no escuro. Ele desejava incentivar a leitura e a educação, hoje tão necessária, mas precisava também sustentar casa e esposa. “Quando comecei a fazer contato em editoras para começar a comprar revistinhas, meu único pensamento era no bem que posso estar proporcionando a eles. Graças a Deus tem dado tudo certo”, comenta ele, como sempre bem-humorado. “Ao invés delas estarem em contato com a violência nas ruas, ou fazendo coisas inúteis como mexer no orkut, elas estarão lendo. E mais, poderão, passar as revistinhas à frente, fazendo também uma integração”, explica.

Os olhos infantis brilham ao encontrá-lo pela rua, para desespero de alguns pais. “Elas insistem, fazem pirraça, acabam levando ao menos uma”, diz o vendedor. E engana-se que pensa que só as crianças entram em êxtase com a presença de tantos quadrinhos. Muitos adultos também são conquistados, seja pela leitura ou pelas palavras de Maruan. “Eu vendo qualquer produto. Raramente alguém fica sem comprar algum item que está em minhas mãos”, diz orgulhoso.

“Eu comprei umas cinco, e quando ele voltar compro mais”, revela sem medo o fotografo Mazé Mixo. “Eu sempre adorei quadrinhos. A Turma da Mônica então, foi a minha infância. Quando menor, eu fazia coleções, era algo tão absurdo que só de olhar para um quadrinho eu já sabia que história contava. E fora o ciúme, ninguém mexia”, relembra contente.

Estratégias

Segundo Maruan, os bons resultados não provêm apenas de uma boa conversa. O marketing como um todo influencia muito mais, sendo esse o motivo para seus trajes. “Eu conquisto pela palavra, é um dom, mas o traje também influencia muito. Por exemplo, no trem. Vem um vendedor de picolé, ele está de chinelo, com a unha suja, uma caixa de isopor horrível, de bermuda e camiseta batida. Causa uma péssima impressão”, explica. “Agora, se vem um vendedor, também de picolé, mas ele está limpinho, de barba feita, com calça, blusa social. Com absoluta certeza esse último obterá mais lucro”.

Casado, tem na esposa além de um porto seguro um auxílio nos planejamentos de marketing. “Ela foi eleita, no último ano, uma das melhores vendedoras da rede Insinuante em todo Brasil. Aprendo muita coisa com ela”, diz.

Trabalhou, também, no SESC de Nova Iguaçu durante alguns meses. Com um grupo de jovens, Maruan montou uma rádio no local, onde comentavam as programações e eventos. “Nós incentivávamos outros jovens, a prática desportiva, a freqüentar eventos culturais. Graças ao trabalho com radialista, fui convidado para participar do EncontrArte, em 2003 e 2004, bem no inicio do projeto”, conta.

Semanalmente, Maruan vende em tordo de quatro mil quadrinhos, faturando por mês até R$ 2 mil. “Isso se o mês for fraco”, diz orgulhoso de seu esforço. Trabalha também com consignação com vários jornaleiros de Nova Iguaçu. “O segredo é abordar e passar felicidade, mesmo que ele não leve nada. Meu grande sonho, mesmo, é poder firmar uma parceria com a prefeitura para disponibilizar os quadrinhos para as escolas”, encerra.

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