Uma luz azul no fim do túnel

terça-feira, 13 de abril de 2010

por Mayara Freire

Esta semana, a cidade terá, além de cinema gratuito, teatro ao ar livre. Nos dias 17 e 18 de abril, acontecerá apresentações da peça “O auto da Escrava Anastácia”, em três praças de diferentes bairros de Nova Iguaçu. Com direito a um grande elenco, percurssão e cantoria, o espetáculo promete emocionar o público. Dirigido pelo iguaçuano Ricardo Andrade Vassílievicth, fundador da Cia Nossa Senhora do Teatro, a peça não terá palco e será apresentada no chão, em um círculo formado pelos espectadores, que possibilitará maior proximidade com o elenco. O evento acontecerá no sábado na Praça do Jardim tropical, às 16h, e na Praça do Km 32, às 19h. No dia 18, no domingo, será na Praça do Tinguá, às 16h.



O culto da escrava Anastácia foi iniciado em 1968, durante uma exposição da Igreja do Rosário do Rio de Janeiro em homenagem aos 80 anos da abolição da escravatura. O ponto de partida foi um desenho de Étienne Victor Arago representando uma escrava do século XVIII que usava Máscara de Flandres, que permitia a pessoa enxergar e respirar, sem, contudo, levar alimento a boca. No imaginário popular, a Escrava Anastácia ficou conhecida como uma santa que operava milagres entre seu povo. Segundo a tradição, era uma mulher belíssima, por quem seu dono se apaixonou. Como forma de vingança, a mulher dele obrigou Anastácia a colocar a máscara sem jamais tirá-la.

“A peça surgiu em 2008, com 100 atores. Nosso objetivo era comemorar 120 anos da libertação dos escravos. Escolhi escrever o roteiro da Anastácia, pois foi santificada pelo povo, além de ser uma história muito bonita. Atualmente ela tem 30 milhões de adeptos”, contou o diretor Ricardo Vassílievicth. A peça, que estreou no salão da Central do Brasil em maio de 2008, teve ótima aceitação de público e da crítica ao longo de uma semana de apresentações. O espetáculo, com uma hora e vinte minutos de duração, se divide em dramaturgia e coreografia com oito musicas afro-brasileiras cantadas e tocadas ao vivo.

Ricardo Vassílievicth sabe a diferença entre criar espetáculo nas ruas e no palco, mas se sentiu na obrigação de levar uma história com um apelo tão popular para as pessoas não têm tanto acesso quanto os moradores do centro. “O teatro é o meu comunicar. E comunicamos muito bem com essa aproximação. A história dela é muito sofrida e as pessoas se vêem ali e se emocionam, choram. O público não deixa a gente ir embora quando a peça termina”.

Uma dos 50 atores dessa grande produção, Indiara Gonçalves acredita que a monstagem da Escrava Anastácia representa o resgate da consciência negra. “Mesmo tendo sofrido tanto, perdendo seus familiares e sua liberdade e dignidade, ela mostrou que é possível amar e respeitar as outras pessoas. Ela também mostra que não existe a diferença de cores, que todos podemos ser alegres, sofredores e ter problemas. Aqueles olhos azuis da Anastácia no meio da escuridão é como uma luz no fim do túnel. É esperança para todos”, disse a atriz.

Alessandro Negrallia, que há dois anos interpreta o namorado da Escrava Anastácia, acha importante o teatro de arena. "É importante e é legal fazer parte desta história. Isso mudou muito a minha vida. Para mim, é mais do que atuar, é espiritual. Quando atuo não sou eu, e sim o personagem”.

1 Comentários:

Anônimo disse...

A cidade de Nova Iguaçu merece ter espetáculos desta natureza. eu assisti com toda a minha família em Tinguá. Chorei, ri e fiquei muito apreensiva quanto ao final. quando a Escrava foi levada por um anjo negro de asas negras não consegui conter a emoção. É bom saber que há anjos negros e do bem como Anastácia e o anjo que a levou. bom saber que a cidade de Nova Iguaçu foi lembrada. Parabéns a companhia Nossa Senhora do Teatro e seus anjos atores.

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