por Josy Antunes e Rodrigo Caetano
“Uma ótima oportunidade para conhecer o que está sendo feito nos quintais e galinheiros do país”, anunciou Matheus Topine, realizador do Cine Goteira, sobre o 1º Ciclo de Cinema Boçal Contemporâneo, que aconteceu no último final de semana, dias 22 e 23 de maio, no Centro Cultural Donana, em Belford Roxo. Ao contrário da maior parte dos cineclubes, o Goteira preza a exibição dos chamados “filmes trashs”: aqueles que você não pagaria para ver num cinema e nem aguardaria ansiosamente sua exibição. “Filmes foram feitos para serem vistos, sejam eles quais forem”, alega Topine, estudante de História e Produção Cultural.
O Ciclo surgiu com o intuito de mostrar o que vêm sendo produzido atualmente, dentro do estilo defendido. “A ideia era brincar com a coisa acadêmica: ciclo de debates. E fazer esses debates sobre coisa ruim, sobre coisa que não é acadêmica, que não sai em livro”, conta, explicando que o planejamento inicial tomou seu foco para a exibição dos filmes. “Desisti das palestras porque precisava de dinheiro pra fazer. Ninguém poe dinheiro em coisa que se diz ruim. Até poe dinheiro em coisa que é ruim, mas se você falar que é ruim mesmo, ninguém faz nada. Nem eu mesmo botei dinheiro, não sou maluco”, confessou Mateus, aos risos, entre as almofadas amarelas e vermelhas do Donana.
Ao todo, em apenas 2 semanas, o Ciclo recebeu 47 inscrições. Entre elas, filmes de Fortaleza, Minas Gerais, Paraná, Bahia e, na maior parte, do Rio de janeiro, onde a divulgação nas universidades aconteceu de forma mais maciça. Os filmes passaram pela análise da curadoria do evento e 13 deles foram selecionados para a mostra competitiva. “Muitos filmes ficaram de fora, os piores ficaram dentro”, resume Topine. Os filmes escolhido pelo júri popular receberão o Troféu Chorume, confeccionado pela estudante de artes plásticas Érika Nascimento a partir de papel higiênico.
Enquanto o público transitava entre momentos de humor ou de ódio em relação a curadoria do Ciclo, o Centro Cultural Donana alimentava a diversidade cultural. Na parte dos fundos do espaço, o livro “Ventos da primavera”, do poeta Arnoldo Pimentel, era lançado, reunindo artistas e poetas da Baixada Fluminense. Enquanto as paredes eram vistas inundadas pelas cores da artista Gabriela Boechat que, quando entrevistada, revelou a seguinte curiosidade: “Eu não tenho formação em artes, nunca estudei artes, não conheço quase nada em técnicas”, contou ela, que é formada em Educação Física. “Eu acho que se a pessoa tiver a oportunidade de estudar qualquer vertente de arte, que estude. Mas isso não é empecilho pra galera que não tem formação deixar de fazer música, poemas, pintura. A formação ajuda mas, na minha opinião, não é determinante. O que importa é o seu olhar sobre a realidade e a sua reinterpretação”, aconselha a moça.
O Ciclo de filmes B teve ainda homenagem ao cineasta e artista plástico catarinense Gurcius Gewdner. “A homenagem foi pra ele porque o cara não passa em lugar nenhum. Ele é um exemplo de boçal por opção”, justifica o realizador Mateus Topine. Gewdner provocou a ojeriza do público com o trailler do seu longa metragem “Mamilos em chamas”, cujos personagem são “interpretados” por coelhos mortos. Mateus conta que o cineasta comprou os animais em locais de venda para consumo gastronômico e que Gewdner possui a seguinte visão: se ele fosse um coelho abatido, preferiria estrelar num filme do que ser devorado num jantar em um restaurante elegante.
Entre zumbis, assassinatos e mediocridades, o Ciclo reuniu cinéfilos e realizadores de distintos cineclubes. E há quem diga que Mateus Topine é o cara mais corajoso da Baixada Fluminense, por realizar tal festival. Sob recomendação do próprio, assistam “Cadê o Daniel?”, realizado por estudantes de cinema da UFF. Os demais filmes exibidos também se encontram disponíveis na internet e a listagem pode ser conferida em http://ciclogoteira.blogspot.com/.
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