por Fernando Fonseca
Diferentemente da juventude da década de 1980, que para ser ouvida viveu aquilo que podemos chamar de a era da intrusão, a juventude dos dias atuais pode ser classificada como em um contexto de inclusão, ao menos na teoria. Para ressaltar essa perspectiva, tomemos como exemplo o encontro realizado ontem, dia 27 de maio de 2010, no Morro da Babilônia, Zona Sul do Estado do Rio de Janeiro, em que doze jovens das comunidades da Babilônia, Chapéu Mangueira, Cidade de Deus, Sepetiba, Mangueira e Complexo do Alemão foram convidados pelo Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, para participar de um debate sobre política e juventude. No evento, que contou com pouco menos de cem pessoas por conta de sua restrição, estiveram presentes outros representantes da ONU, como a representante do UNICEF no Brasil, Marie-Pierre Poirier, Benedita de Paiva e a imprensa nacional e internacional. Os temas discutidos no evento foram: educação, saneamento básico, meio ambiente, segurança, saúde e desigualdade.
“O Rio de Janeiro é a segunda cidade mais rica do país. Falta emprego para os jovens, os negros e as mulheres. O Bolsa Família foi um programa do Governo Federal que surgiu no intuito de auxiliar na redução da desigualdade e da pobreza. As escolas têm grandes quantidades de alunos e pouca qualidade no ensino. Quantos de nós já não deixamos de ir à escola por problemas de tiroteio? Medicamentos para doenças, como o HIV, são escassos e a discriminação com a população portadora da doença é enorme. No meio ambiente, acompanhamos recentemente inúmeras tragédias provocadas pelas chuvas, como deslizamentos, casas caindo e outras sendo afetadas pela poluição. Sem falar dos problemas de ocupação irregular. Nós, adolescentes, somos importantes para enfrentar esse desafio?” - pergunta Rafaela Queiroz, de 16 anos, moradora da Babilônia. Em resposta, o secretário diz, ironicamente, que a resposta para esta pergunta era mais difícil que uma reunião da Assembléia Geral das Nações Unidas. Impressionado, diz ainda serem as metas de desenvolvimento do milênio todas direcionadas aos jovens. “Jovens, esse mundo é de vocês. Estamos agindo a fim de alcançarmos uma situação financeira sustentável para o futuro de vocês”.
Ban Ki-moon comenta serem importantes todas as questões levantadas e que as Nações Unidas buscam sempre melhorá-las. “Um bilhão de pessoas convivem com a pobreza e a fome no mundo. É inaceitável que um bilhão de pessoas vai dormir com fome todos os dias. Melhoramos a educação em 97%, estamos agindo para que as mulheres sofram menos discriminação; elas precisam dos mesmos direitos e condições de trabalho que os homens. Muitas pessoas no mundo sofrem de doenças. Podemos salvá-las se fizermos alguma coisa para curá-las. Esperamos até 2015 que nenhuma pessoa morra por malária, erradicar a pólio e diminuir os óbitos por AIDS pela metade”. Além de comentar sobre a reunião da cúpula, que acontecerá em setembro, ao qual pretende poder cumprir com todas as suas promessas e ajudar a todos que necessita, o secretário acrescenta ter o presidente Lula, com muito esforço e trabalho, conseguido bons resultado em sua campanha.
Era possível ver e sentir naquele momento, entre flashes e perguntas, a verdadeira essência da juventude. Com propriedade de causa, os jovens falavam sobre juventude sem as velhas e conhecidas teorias formuladas pelos adultos. No calor e efervescência do debate, Ban Ki-moon resume suas diplomáticas intenções em uma fala: “Enquanto não resolvemos todos esses problemas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo harmonizado. Proteger e promover os direitos humanos são a nossa missão. Jovens, esse mundo é de vocês. Podem contar com a ONU para resolver esses problemas”. Tão claras, também, eram as intenções dos jovens ali presentes. Para eles, com a criação da Plataforma de Centros Urbanos, um programa de políticas públicas voltadas para a juventude formulados pelo UNICEF, as oportunidades se multiplicaram e após anos, eles conseguiram ser ouvidos. Chegaram até a conversar com o prefeito ano passado e tiveram voz no Fórum Urbano Mundial. “Queremos mudar o pensamento dos líderes mundiais sobre a juventude”, disseram.
Voz importante
Pautados e incisivos: assim podemos classificar o grupo de jovens que participaram do encontro com o Secretário Geral da ONU. “O que podemos fazer para alcançar os objetivos do milênio?”, indaga um dos jovens. Feliz por comentarem sobre os Planos de Ação, Ban Ki-moon afirma: “a resposta para esta pergunta é exatamente o motivo de eu estar aqui conversando com vocês hoje. Vocês podem achar que não podem vir a influenciar no mundo, mas possuem uma voz importante. Vocês têm o direito de reivindicar, de serem ouvidos e percebidos. Como disse, esse é o seu mundo. Segunda a Carta dos Direitos Humanos, não deve haver forma nenhuma de descriminação. Portanto, não se sintam acanhados. Tenham orgulho do que são.”
Após uma calorosa salva de palmas, o representante recebeu dois presentes da comunidade da Babilônia: um caderno de desenho feito pelas crianças e camisas da Seleção Brasileira de Futebol. Em uma pergunta informal, sobre que país ele acha que ganhará a Copa, o secretário, rindo, diz: “Sei que a Seleção Brasileira é pentacampeã e espero que vocês tenham sucesso, mas terão de vencer a Coréia do Sul e não sei o que vai ser”, responde, sarcasticamente, nos parabenizando também pela Copa de 2014 e pelas Olimpíadas de 2016.
Ban Ki-moon se reunirá, a partir de amanhã, com os líderes da ONU para discutir os problemas apresentados no encontro com os jovens. Com ele, segue também a carta com os sonhos e os pedidos de 12 jovens da periferia do Estado do Rio de Janeiro que acreditam na esperança de uma ‘Cidade Maravilhosa’.
13 Comentários:
Você não me disse que tinha lembrancinhas e nem pegou uma para mim. Misérable. :D
Apesar de ser uma organização mundial e extremamente potente, é notável certas falhas de discurso. Realmente, como pode ter 97% de melhoramento na educação, sendo que ainda há um sistema defeituoso, por exemplo, no Brasil? (Tudo bem que isso também envolve desvio de verba, mas enfim) E como se pode falar de política, de Direitos Humanos, já que é o assunto geral ao qual se trata o evento, sendo que a população não tem um conhecimento sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos? Contraditório, mas uma ótima matéria.
fiquei até arrepiada!
como sermos políticos se a política é restrita? Pq apenas jovens das comunidades foram chamados?
e onde ficam os jovens da Baixada?
direitos iguais? me sinto lesado nesse momento!
grande igualdade...
sinto a mesma coisa Bruno!
gostaria muito de ter participado do debate tbm...
quero ver ele visitar uma favela sem UPP...
sem preconceitos! ¬¬ [2]
Rafaaaaa, vc ficou famosa!!!
te amo miga s2
Muito boa matéria!
Como jovem, eu espero que o secretário geral da ONU não tenho essas opiniões sobre nossa importância apenas na teoria, e que isso seja visível também na prática.
Parabéns Fernando.
workin' hard?
doubt*
ele é fofinho gente, pára tudo!
quero ele pra mim!
Gabi
a plataforma abrande a Baixada?
não é abrande, é abrange!
e não, não abrange;
tenho amigos que moram em comunidades do Centro,
todos falam super bem da plataforma.
nem sabia que era tão famosa assim.
parabéns aos jovens do Cultura NI.
presença vital de vocês nesses encontros!
bjs
Suelly Cavalcante
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