Frio na barriga

segunda-feira, 26 de julho de 2010

por Marcelle Abreu

Fazer moda na Baixada Fluminense é uma realidade um pouco utópica, pois há quem tem a vontade de fazer, porém não quem invista nesse campo. Pude ter a oportunidade de conhecer essa realidade de perto e dividir essa experiência com muitas meninas que têm o sonho de ser modelo, mas na hora de realizar, fica difícil não tendo oportunidades.

Ser modelo, assim como qualquer outra profissão, requer amor, dedicação, e para que isso seja posto em prática é necessário que o mercado abra as portas para que essas meninas possam correr atrás e alcançar seus sonhos.

Infelizmente, a Baixada não possui uma agência de modelos de grande porte. Na verdade, são poucas as agências de modelos aqui. Com o tempo elas estão indo buscar novos espaços no Centro do Rio ou em outros lugares onde há um investimento maior na moda. “Mudei para Copacabana tanto para crescer como modelo quanto profissionalmente, pois o mercado de trabalho na área da moda é maior por aqui”, afirma a modelo Rafaela Ruguenin, que desde cedo queria ser modelo e aos 15 anos começou a correr atrás do sonho e por algumas vezes pensou em desistir.

Rafaela Ruguenin, que já foi moradora da Baixada, já foi descriminada em um desfile na Zona Sul. Por causa desse episódio, chegou a pensar em largar tudo. Só não o fez por causa do estilista Alex Firmino, que a chamou para fazer parte de um de seus trabalhos que foi realizado no Espaço Cultural Sylvio Monteiro. "No desfile, eu conheci o fotógrafo Alexandro ADDS e o produtor de moda Wellington, que me convidaram para fazer um editorial com as roupas do Alex", conta a modelo de 20 anos, que hoje faz parte do casting da agência 40º e trabalha no atelier da marca Cupcake, no Jardim Botânico.

Pagando para desfilar
As meninas da Baixada recebem cachês baixos, inferiores aos das meninas da Zona Sul. Às vezes, o que elas recebem é insuficinete para cobrir os gastos com as roupas para se arrumar para as seleções e a passagem para chegar ao local. Outro problema enfrentado por elas é a falta de reconhecimento. Só ficam mesmo as que têm muito amor pela moda. “O amor pela profissão me incentiva a seguir em frente, pois como não sou conhecida não faço muitos trabalhos e o meu cachê não é alto. Mas quando desfilo ou fotografo, faço por prazer mesmo. Já cheguei a pagar pra desfilar quando era mais nova. É o que gosto de fazer”, conta a modelo Clara de Assis Santos, que por via das dúvidas está estudando administração.

Clara de Assis, que desde pequena desfilava nas festinhas da escola, só tinha 12 anos quando procurou uma agência em Nova Iguaçu que estava fazendo uma seleção para um desfile. Na ocasião, recebeu a proposta de fazer parte de um curso de modelo em Campo Grande. "Como não tinha condições de bancar o curso, o responsável pelo convite me deu a oportunidade de fazê-lo de graça", conta Clara de Assis.

Aos 13, Clara de Assis ficou entre as finalistas do RJ de um concurso de uma grande agência, mas por ser muito nova não pôde ir para a final, que seria realizada em SP. Por falta de dinheiro para fazer o book não ficou na agência, e então resolveu dar um tempo na carreira.

Com a ajuda de amigos, conseguiu fazer seu book e hoje faz parte de uma agência de médio porte, mas o que ela quer mesmo é poder fazer parte das grandes agências e sabe que o caminho será difícil. ”O grande problema que enfrento é que não dá para eu sobreviver da carreira de modelo, e por esse motivo tenho que buscar outros meios de ganhar dinheiro", conta Clara de Assis, que já perdeu muitas oportunidades de desfilar porque não pode ficar faltando o trabalho.

A carreira de modelo, ao contrário do que muitos penam, não é fácil e é bastante cansativa. O ritmo é bem acelerado, com provas de roupas constantes, desfiles que duram o dia todo, produções demoradas, e às vezes o tempo é tão corrido que nem sobra tempo para as refeições. É preciso muita dedicação e determinação, pois é um meio onde a concorrência é alta, as oportunidades são poucas e a cobrança é grande. Mas isso tudo se torna um mero detalhe quando há força de vontade e amor. “É quase inexplicável a sensação de se trabalhar com moda. Além da beleza, do glamour, dos flashes, a moda é arte, é o que faz meu coração acelerar a toda nova passarela, é o que me dá aquele frio na barriga maravilhoso. Moda me faz querer sempre mais. Moda me emociona, me ilumina”, explica Rafaela.

Rafaela deixa um recado para aquelas que têm interesse no mundo da moda: “A carreira de modelo é algo maravilhoso, só é preciso tomar bastante cuidado, pois tem muita gente que diz trabalhar na área para tirar proveito das pessoas, por isso é muito importante que a família sempre esteja ciente de tudo. As agências costumam trabalhar com contratos. Leia e peça que alguém que conheça sobre o assunto leia também, para não assinar nada que possa te prejudicar. Agradeço pela oportunidade, e digo a todos que tem vontade de seguir o mesmo rumo, que vá em frente sempre!”.

5 Comentários:

Villarino disse...

Bela matéria.
Essa vida de modelo não eh facil nn.

beeijo

HOT disse...

Boa Marcelle!

Bacana esse lance de entrevistar modelos,realmente falta investimento e oportunidade aqui na Baixada...

Parabéns pela matéria!

Bjuu Hot

Gabriela Noel disse...

A matéria explica muito bem a realidade da moda na baixada, a discriminação, o cachê baixo, os gastos enormes...infelizmente tudo isso contribuem para que quem quer investir mesmo na carreira tenha que se mudar.Acho que entendo isso bem né?!rs... Parabéns Marcelle suas matérias parecem que estão melhores a cada dia. Beijos!

Anônimo disse...

carambaaa.....simplesmente ESPETACULAR!!!
com riqueza de detalhes,descreve bem a realidade da moda na baixada.....
parabéns!!!!

Natassia disse...

mateeeriia shoow, celle..
vida de modelo é complicada.. rs
beijos paraaabens

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