por Yasmin Thayná
Sérgio Sousa Oliveira, o mestre Nagô, é o fundador do projeto Abadá Capoeira. Além da óbvia referência à roupa usada pelos capoeiristas, o nome é uma sigla cujo significado é Associação Brasileira de Apoio dos Movimentos da Arte Capoeira. O CNPJ do projeto liberado no dia 30 de agosto de 2003, mas o Abadá já existia, com essa mesma designação, há mais de 15 anos. Não somente isso. O Abadá capoeira está em todos os estados do Brasil e em mais de 50 países. Por Sérgio Sousa ser de Nova Iguaçu, criou um espaço na cidade para tirar as crianças da rua por intermédio da capoeira.
O projeto tem uma parceria com a Cultura Inglesa e com o Brasas, que dão cursos gratuitos para as crianças aprenderem inglês e e poderem se comunicarem com as outras que vêm do exterior. Essa é apenas mais uma demonstração de que a capoeira é muito mais do que uma arte ou uma luta. “A gente ensina também cidadania, preparando os jovens para serem profissionais”, disse ele.
O Abadá melhorou a vida de muitas pessoas. Mas de vez em quando o Mestre Nagô se surpreende com os resultados que obtém com seu trabalho. Esse foi o caso da recente viagem que fez à Europa. Na passagem pela Bélgica, encontrou dois alunos seus dando aula de capoeira. Na Espanha, um. “Eu nunca ia imaginar o cara dando aula hoje no exterior. Nem ele imaginava isso. Isso é uma vitória”, disse o metre.
O trabalho do Mestre Nagô é uma prova de que a capoeira atravessou as fronteiras nacionais. Um dos momentos em que percebeu a força da capoeira foi na viagem que fez à França no ano passado, quando viu pais levando seus filhos para o treino mesmo nos gelados dias do inverno europeu. “A capoeira hoje é uma integração social, que ultrapassa as barreiras até mesmo na periferia de Paris”, contou o mestre, para quem o poder público poderia dar maior apoio ao esporte em um país tropical como o Brasil.
Oportunidades de emprego
A capoeira já é um instrumento de integração e inclusão social, de forma que os professores dão oportunidades não só para as crianças saírem das ruas como também para os jovens desempregados. Um exmplo disso foi o amigo que encontrou dando aulas em Paris. “Além de dar oportunidade para as crianças, ele abre espaço que jovens possam ter oportunidades de emprego, pois automaticamente a prefeitura está ajudando”, disse Nagô.
Pessoas de diversos países já visitaram o Espaço Cultural Abadá de Capoeira, do mestre Nagô. No próximo ano, será a vez de 12 crianças de Israel permanecerem alguns dias no espaço fazendo capoeira e conhecendo uma parte do Brasil através dela. “Nos jogos mundiais do ano passado, os pais permitiram que crianças e adolescentes de 13, 14 anos viessem para o Brasil”. Elas tiveram oportunidade de ver um Brasil diferente daquele que é divulgado pela grande mídia, de violência e tráfico. Quando voltaram para sua terra, as crianças israelenses puderam contar para seus pares que aqui no Brasil tem jovem pobre falando inglês.
Além de desenvolver a coordenação, o equilíbrio, a atenção, a capoeira é um dos grandes divulgadores da língua portuguesa pois em todo lugar do mundo, os termos da capoeira estão sendo ensinados em português. “As crianças vêm falando de lá algumas coisas da capoeira em português e eu digo para os meninos falarem em inglês porque aí eles podem fazer essa integração.”
O Abadá é literalmente um projeto de inclusão social, tanto nacional quanto internacional. Hoje, sabe-se que as drogas é uma realidade que está presente no meio dos jovens. E os maiores consumidores são de classe média alta, devido à falta da participação dos pais. E quando se fala em inclusão social, a associação automática que se faz é para as regiões periféricas da sociedade. “Quando eu falo de inclusão lá em Paris, pensam que eu estou louco. País de primeiro mundo com projeto de inclusão social? Exclusão social em Luxemburgo? País dos bancos. Pois é, tem projeto de jovem infrator em Luxemburgo. Tem trabalho de capoeira lá dentro.”
Avião
Mestre Nagô faz questão de dar oportunidade a essas crianças e jovens que, a princípio, não possuem uma perspectiva de vida. O desejo dele é que seus alunos possam crescer através da capoeira e da educação. “Hoje eu conheço o mundo e o mundo me conhece. Eu era criança e via o avião passando aqui e hoje eu passo de avião e vejo Nova Iguaçu. Eu vejo que cresci”.
Sérgio Sousa também promove encontros em Nova Iguaçu reunindo mais de 70 pessoas de 15 países diferentes, sem nenhum apoio da Secretaria de Cultura e Turismo da Cidade. “As pessoas não se importam muito com Baixada Fluminense não. Nova Iguaçu tem um potencial muito grande. Quando levei os gringos na cachoeira, eles ficaram encantados. As pessoas precisam valorizar mais o esporte, a cultura porque ela tem um potencial muito grande de conscientização, de tirar as crianças da rua.”
O projeto de capoeira está fazendo uma parceria com o pontinho de cultura coordenado pela pedagoga Aline Velasco, que faz um trabalho de incentivo à leitura na Escola Municipal Luiz de Lemos, onde o Abadá também tem um pontinho de cultura. A maneira com que eles conseguem voltar a atenção dos alunos é formando grupos de pesquisa onde eles estudam a história do Brasil, na qual a capoeira tem uma grande participação. “Formamos grupos de pesquisa para estudar as duas grandes maltas de capoeira do Rio de Janeiro da época em que D. João chegou ao Brasil fugindo de Napoleão. Um outro pesquisa a capoeira do mestre Bimba. Também pesquisamos influência da capoeira no frevo. Mostramos para as crianças que o mestre-sala também era capoeirista.”
O trabalho não se limita apenas à história: eles também trabalham também com a ecologia. Os professores sensibilizam os alunos através das ferramentas que eles utilizam. Como o berimbau é feito de árvore, eles mostram é preciso consciência ambiental. “Através da capoeira que vem a motivação do aluno a ler outros livros importantes para a formação dele. A proposta é fazer o aluno da capoeira, o aluno da leitura, serem alunos críticos. Porque isso vai ser aplicado na política.” Para isso, montou uma biblioteca no espaço. Os alunos que participam do projeto Abadá de capoeira são da comunidade e da Escola Municipal Luiz de Lemos.
Mestre Nagô não sabe se se vão sair mestres de capoeira do seu projeto, mas tem uma certeza: eles vão levar muitas informações para suas vidas. "Ela começa a ver o mundo diferente com essa influência da leitura. Só com a formação você chega a algum lugar. E o prêmio mais importante é ver quando uma criança se desenvolve, como aqueles meus aluno que estão no exterior. Prêmio material de que vale? O legal é ver quando o cara analisa o passado dele e compara com o presente e vê a diferença. Isso que é prêmio. Isso que é conquista. Tanto pra mim quanto para eles. O maior prêmio é a consciência social e a formação profissional dos meus alunos.”
Prêmio Abadá
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Marcadores: Bairro-Escola, Yasmin Thayná
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