Tribos delirantes

sexta-feira, 23 de julho de 2010

por Dannis Heringer

A artista multimídia Amanda Nevark, 21 anos, conheceu a Geração Delírio através do amigo Emerson de Souza, o Tchatcho, um dos principais organizadores dos eventos na Lapa que deram fama a esses jovens artistas da Baixada. São muitas as noitadas que marcaram a sua vida, mas nenhuma delas supera a roda punk formada no cabaré Beijoca na qual ela estava cantando alucinadamente uma música da Colômbia Coffee. “Me empurraram e eu caí de joelhos em cima do palco”, conta Nevark, cuja banda predileta, no entanto, é a Sofiapop, principalmente quando canta “Linda e Atormentada”.



Embora seja figurinha fácil nos eventos da Geração Delírio, sua identificação se dá pela explosão de arte, ousadia, criatividade e diversidade de seus colaboradores, sempre abertos para quem queira “contribuir com mais um verso”. Mas passa longe dela a possibilidade de pertencer a essa tribo. “Eu pertenço a mim mesma”, diz ela. A única tribo na qual ela pode se ver é a poética.

Apesar da independência, Amanda Nevark só tem elogios para a Geração Delírio, que para ela encarna o “instinto do ser humano de existir e se expressar de todas as formas e vertentes, depreendidas a
sofisticação, modismo ou sequer a conclusão que a sociedade espera da juventude”. “Recolhemos frutos do que as gerações passadas deixaram para nós sem o aclamar das coisas que poderiam ter sido feitas.
Simplesmente viu-se a necessidade de fazer e fizemos.”

Noventa por cento
Michel Amado não lembra ao certo como foi seu primeiro contato com a Geração Delírio, que no seu entender está presente em todos os lugares de Nova Iguaçu. “Noventa por cento das pessoas que curtem esse cenário alternativo se identificam com a Geração Delírio”, conta esse malabarista de 21 anos, que se sente pertencendo a essa tribo toda vez que para pensar no seu gosto musical, no seu linguajar, nos lugares
que frequenta.

Como a esmagadora maioria dessa tribo, o malabarista é fã de carteirinha da Sofiapop, mesmo depois de descobrir que o significado do nome não tem nada a ver com o que pensava. Mas a banda que o “deixa
em êxtase” é a Colombia Coffee, particularmente quanto tocam “As coisas que ela diz” e “Pernas de Natália”, que o “sacodem por dentro”. Mas uma das razões para que ele se identifique com essa geração de
jovens artistas de Nova Iguaçu é o fato de lhe permitir continuar gostando de “tudo de qualidade”. “Estou na tribo do malabares, na tribo do Rock ’n’ roll, na dos barzinhos, na dos formadores de opinião, na dos que tem idéias loucas e dos que fazem tudo e não fazem nada”, filosofa o malabarista.

Michael Amado acredita que a Geração Delírio esteja crescendo numa progressão geométrica rumo ao infinito exatamente por acolher que se juntam “só para serem felizes, mesmo que seja só por uma madrugada ou uma tardezinha na pista”. “Vale tudo para se divertir, só não vale atrapalhar a diversão de ninguém”, diz o malabarista, que atribui o crescimento dessa geração de jovens artistas ao bom mas limitado boca-a-boca. “Acredito que um dos segredos da Geração Delírio é que todos se tornam amigos e cada um vai falando para os seus próprios amigos o quanto essa Geração é boa.”

Fantoches
Estudante de história da UFRRJ e funcionária pública, Hana Mariana Ribeiro conheceu a Geração Delírio através de amigos e pela divulgação de alguns shows, principalmente da banda Na Sala do Sino. Considera inesquecível a noite em que uma multidão enlouquecida se “debatia como fantoches de uma música, de uma letra, de uma palavra”. “Foi fantástico”, diz ela, que não se preocupa em explicar a razão para se sentir tão bem ao lado desse grupo. “Quando vemos estamos juntos de quem gostaríamos de estar e onde nos sentimos bem. A Geração Delírio para mim seria isso.”

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