por Fernando Fonseca
Sem o grande ‘oba-oba’ do mundo socialista, onde tudo é de todos e nada é de ninguém, vivemos diariamente à mercê do consumo, seguindo religiosamente os mandamentos do capitalismo: comprar por necessidade, comprar por carência, comprar por estímulos ou apenas comprar por comprar. Carro, casa, roupa, perfume, bebida, livros, acessórios, aparelhos, seja lá o que for, o tesão encontra-se na
palavra COMPRAR. E quando surge no meio de todo esse fetiche a imaculada palavra liquidação? Para algumas pessoas, tal palavra pode servir de condução a um prazer tão bom quanto um orgasmo. Aquela vontade megalomaníaca de comprar, reprimida graças a salário mínimo, invade cada molécula proibida do seu corpo e te leva ao ponto máximo do transe. Parabéns, você acaba de chegar ao ponto máximo da evolução. Não, você não alcançou o nirvana. Sim, você entrou no cheque especial!
Muitas pessoas compram por necessidade primária: comida, bebida, produtos higiênicos e coisas do tipo. Já uns seres mais evoluídos, eu digo uma pequena parte da população, compram no intuito de doar a terceiros. Por último, não menos importante nem tampouco quantitativo, há ainda as pessoas que compram por vaidade, ou seja, todo o restante do mundo. Essa última classe é representada pela
maioria esmagadora da população e pode ser classificada em três níveis de consumo.
O consumidor nível um é aquele que compra para se satisfazer. O que importa mesmo para os pertencentes dessa ordem é que o seu psicológico sinta-se satisfeito, independentemente do que os outros achem ou não. Desse segmento, tomamos como exemplo os seres que usam calça roxa com camisa verde-limão, ouvem música pop, andam em bando e tomam coca-cola. “Eu não estou nem ai pros outros, sou estilizo e várias pessoas dizem a mesma coisa. Não posso agradar todo mundo, essa é a
verdade. Visto o que eu quero, sou colorido mesmo, o mundo é assim! Não tenho culpa por ter uma personalidade marcante!”, diz o estudante secundarista Marino dos Santos, um morador 18 anos do Centro de Nova Iguaçu.
O consumidor nível dois tenta diferenciar-se ao máximo do consumidor nível um. Geralmente, compram produtos de estética clássica, optando sempre pela descrição. São monocromáticos e pseudosseletivos. Sentem vergonha alheia facilmente e deliciam-se em comparar suas aquisições com as de terceiros. Vivem em constantes
autocríticas e odeiam encontrar alguém usando algo melhor que o seu. Quando isso acontece, são invadidos por sentir sentimentos desde os mais primitivos até os mais doces: “É como se um animal selvagem gritasse dentro de mim, pedindo pra ser solto. No primeiro instante, você tem vontade de ‘bandar’ a pessoa que está usando o produto e sair correndo com ele nas mãos, porém esse sentimento só te acomete por apenas dez segundos, que é o tempo necessário para você captar toda a essência do
produto e tomar uma decisão: ou dar as costas e sair andando depois de
perceber que aquele produto não é melhor que o seu, ou aceitar que aquele é ‘O produto’ e acabar virando fã da pessoa que o possui”, diz a estudante de educação física Ana Clara, uma moradora de 23 anos do Bairro da Luz.
O consumidor nível três pertence à ordem dos consumidores compulsivos. Compram coisas tendo absoluta certeza que nunca irão usar, se precisam de algum produto específico compram cinco peças, de cores diferentes, do mesmo produto só por precaução. Sentem certa nostalgia em possuir estoques e mais estoques de caixas lacradas em sua casa com produtos que nunca serão usados. Não se classificam como egoístas, mas não dividem nada com ninguém. “Eu estava precisando de um biquíni para ir viajar, fui à loja para comprar um no dia anterior à viagem. Quando eu vi aqueles biquínis supermaravilhosos eu não sabia qual levar. Conclusão? Levei cinco biquínis! E olha que eu nem tenho tempo pra usar todos eles. Ah, claro! Sem falar que eu fui no shopping pra comprar um biquíni e acabei levando uma canga, um guardassol, uma bolsa, dois shorts, um chapéu, maquiagem, não me pergunte pra quê, uma camisa e um quadro. Ha-ha, ele era tão lindo, com umas cores exóticas.
Não resisti e acabei comprando!” conta às gargalhadas a estudante de direito Maria Eduarda, uma moradora de 20 anos de Comendador Soares.
O último consumidor é o consumidor nível quatro. O mais raro de todos os consumidores. Caracteriza-se por ter em seu perfil de consumo as características dos consumidores níveis um, dois e três. Em alguns dias, sentem a necessidade de fazer compras pra se agradarem, massagearem o ego e coisas do tipo; em outros, amanhecem loucos pra comprar produtos com a finalidade de agradar terceiros e há também os dias em que sentem vontade de apenas comprar, sem nem saber o porquê.
“Ah, eu sou assim. Tenho o meu próprio dinheiro e quando me dá vontade de comprar coisas que não têm muita utilidade, eu vou lá e compro! Acho que é por pura vaidade mesmo. Outro dia eu comprei um conjunto de panelas de inox. Estava passando na loja achei muito bonito o design do produto e levei comigo! O único detalhe é que eu moro sozinho, não sei cozinhar e como na rua. Mas quem sabe um dia eu aprendo? Na
maioria das vezes, eu compro as minhas coisas pensando em mim apenas. Mas quando vejo, já estou me perguntando ao passar por alguém: ‘Será que ele ou ela gostou? Eu realmente estou incrível com essa roupa. Morra de inveja!’. É a vida, sou feliz assim. As vezes tenho medo de mim mesmo!” conta o arquiteto Ruy Caetano, um morador de 27 anos de Santa Eugênia.
Compre pra você, compre pra mim, compra pra ninguém. Fazer parte dessa tribo é isso: Comprar, comprar e comprar. Quem compra seus males espanta, então, compre e seja feliz... pelo menos até a hora em que sua conta chegar!
15 Comentários:
ah, eu sou o número 4
kkkkkkkkkklaro!
Joanita**
Ain gente, que me-do de mim!
acho que sou tudo e não sou nada ao mesmo tempo!
Ai, eu super sou o consumidor nível quatro com mais tendência ao nível dois, hahaha.
Fernando, eis aí a explicação das nossas "eu passo a banda e você puxa", haha
tbm sou compulsivo.
mas não ligo.
encaro isso como um desafio diário!
hahahá*
viva os compulsivos!
John
sou mendiga e só vivo de doações.
brinks.
Comprar APENAS por necessidade não é um mandamento do capitalismo. A propaganda massante
é a prova disto, vai além do real sentido que um bem, serviço ou produto possa te oferecer.
entendo que seja um mandamentmoo tbm do capitalismo. Tem coisas que eu compro apenas por necessidade primárias, mas são MINHAS necessidades primárias. Que com certeza não são necessidades primárias de terceiros!
descoordo de vc!
Vc como consumidora afirma ser assim. Mas e quem faz a oferta ? No texto tem muitos exemplos de necessidades primárias fora do sentido necessário
Ahm, todos nós somos um pouco de cada. Por vezes somos compulsivos, por outras somos compassivos. Afinal, comprar/ vender é vivenciar o captalismo em sua forma mais básica.
E por enquanto é o que sabemos fazer bem. Além de demonstrar o perfil singelo e cruel do capitalismo - da caridade ao egoismo em um passo.
Otima reportagem! Refltiamos sobre nosso papel neste roda-viva.
ôoooooo imbecil!!
no texto diz assim:
"Muitas pessoas compram por necessidade primária: comida, bebida, produtos higiênicos e coisas do tipo."
E como vc fala que que estão fora do sentido necessário? liguem o alerta de ignorância!
Concordo com a Juliana, somos um pouco de cada mesmo, com tendências bem atenuadas a um deles.
UUUUUUUUUUUI!
eu sou muito mais o número um que os outros.
SEM DÚVIDAS!
amei*
Carla Souza
eu sou o número três, no doubt
ain que vergonha de assumir isso!
hahá.
Alessandra Anastácio
amoooo!
comprar é tudo de bom.
agradeço todos os dias por ter nascido em um
país capitalista.
minha vida não seria nada sem as compras!
Laísa
Não sou contra o Capitalismo, mas sim como as pessoas utilizam esse sistema econômico,essa grande variedade de ofertas de produtos, para consumirem tudo o que seu dinheiro suado pode, sem se perguntarem se o que estão comprando é por necessidade ou, apenas, por puro luxo, aparência, vaidade.
Seria hipócrita se eu dissesse que não gosto de comprar, ao contrário adoro, mas acho que devemos consumir com consciência, comprando o que realmente vamos usar e não porque está na moda ou porque outras pessoas tem, precisamos ter um ideologia definida e não sermos,apenas,fantoches de país que fazem de tudo para que vire "um país coca-cola" (como já dizia Renato Russo).
geração, coca-cola!
geração, coca-cola!
ouoooooooooooooô
Adoooooooooooro comprar.
mas sem tantas futilidades como eu li aqui.
não sou tão assim, coptadas pelo sistema como
algumas pessoas, mas desejo força a elas! rs
Bejo*
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