Memórias da Francisco Carlos

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

por Joaquim Tavares

Era uma rua sem saída, com vizinhança razoavelmente tranquila. Local perfeito para as crianças brincarem e, se falando de brincadeira de criança, o futebol era o que predominava.

Não necessariamente eram só crianças. Muitos ‘barbados’ se envolviam nas peladas que ali aconteciam – o que deixava tudo mais disputado. Às vezes, parecia que deixava de ser brincadeira e passava a ser uma competição seriíssima. Pontapés pra cá, palavrões pra lá... Para quem olhava de fora era uma guerra, mas, para quem estava ali no meio, não passava de um passatempo extremamente prazeroso.

Os vizinhos não gostavam. Quando as bolas caíam em suas casas era uma questão de muita sorte ela voltar ‘viva’, sem nenhum arranhãozinho. Mas, mesmo voltavam furadas, a pelada não parava – o jogo continuava com ela em qualquer estado.



Era, sem dúvida, o local mais disputado para se jogar bola em todo o bairro e quem jogava ali não apenas se orgulhava disso, como fazia questão de dizer: “Eu jogo no ‘campinho’, aparece lá pra você ver o que é futebol de verdade.”

Curiosos se aglomeravam para assistir e novatos chegavam a toda hora para tentar participar da ‘Copa no asfalto’. A brincadeira recebia o nome de ‘Golzinho’ – 3 para um lado, 3 para o outro, os chinelos usados como trave e o ‘coco’ rolando, assim como os bate-bocas devido à inexistência de juiz para comandar a partida; todos eram juízes, aí já viu!

Ganhar uma partida ali era um ato de glória, marcar um gol então... Era memorável! Tive a sorte de fazer isso muitas vezes e, ainda por cima, eu morava nessa rua.

Passado os tempos de menino, cheio de responsabilidades e, agora, sem tempo para o saudável futebol de rua, cabia a mim admirar e relembrar os ‘nem tão velhos’ tempos de pelada. E quando moleques ali ainda jogavam, batia aquela saudade e, passando pelo meio do ‘campo’, um toque na bola era inevitável.

Ao lembrar das histórias, dos momentos, surge uma honra muito grande de dizer: “Eu, Joaquim Tavares Júnior, já me machuquei várias vezes ali, fiz amizades para sempre... Muitas amizades e que duram até hoje, já rendi muitas reclamações à minha mãe, já escutei muitos palavrões de vizinhos e já falei muitos outros a eles também. Eu ajudei a criar a história do ‘Campinho’, com gols e jogadas inesquecíveis - pelo menos para mim. - E, acima de tudo, eu o faço vivo até hoje!”

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