Baixada encena

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

por Yasmin Thayná



Dessa vez, todo o Rio de Janeiro têm sido afetado com a violência desses últimos dias. A Polícia Militar do Estado, o Batalhão de Operações Especiais e a Polícia Civil, estão em árduo serviço na Vila Cruzeiro e o Complexo de Alemão que foi uma opção obrigatória nessa onda de pacificação. Eventos cancelados, pessoas prisioneiras da mídia, alienação, boatos.


Nos primeiros dias de violência, a Nova Iguaçu sofreu uma cena de "arrastão" no maior centro comercial da classe popular: o calçadão, apelidado ironicamente, na minha opinião, de "shopping a céu aberto."

Foi um caos. Algumas amigas minhas tuitaram: arrastão 2010 no calçadão eu fui; narraram cenas de pauladas na cabeça de comerciantes, tumulto: "quando vi uma micareta na minha direção, não tive reação. Me senti na Rio Sampa nos dias de Cláudia Leite." Como se não bastasse todo esse alvoroço que já tinha registrado queima de carros próximo ao Colégio Leopoldo, arrastão em Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis.  O arrastão foi a introdução da minha estadia para sempre em casa, já que meu tio ligou e disse pra ninguém sair de casa, o que atrapalhou a possibilidade de entrega a Joana Cardozo da minha escaletas do longa-metragem na praça da cruz vermelha.

No dia seguinte quando tomava café da manhã na cozinha com o rádio ligado e sintonizado na rádio TUPI, Clóvis Monteiro contou que era tudo boato, não houve arrastão: alguém foi lá no meio e gritou: arrastão! Todos correm em seguida. Impressionada como essa violência surtiu tantos efeitos com o surgimento da facção quarto comando: organização criada sobre o aproveitamento de uma guerra séria entre civis e militares no Rio de Janeiro cujo objetivo era causar tumulto na Baixada e descobrindo excelentes mobilizadores e palhaços. Facção forte essa que mobiliza 3 Municipios da Baixada, grita "arrastão," vira página de noticiário e depois que o povo gastou seu dinheiro, senta no bar, pede o coxinha com caldo de cana e percebe que gastou 1 real no meia hora a toa.

Às 6 da noite, passei pelo Túnel do Getúlio que passa por baixo do maior símbolo do proletário dividindo Nova Iguaçu em duas, e percebi que não havia muitos trabalhadores como de costume. Haveria, no entanto, um medo gigantesco aparente. A cidade gelou. O centro de Nova Iguaçu não tinha mais aquele fervor insuportável de início, meio e fim de ano inacabável.

A mídia atormentava a minha casa. Até agradeci a Deus por ter assinatura da Sky porque a única coisa que poderia me tirar dessa cena violentamente urbana eram os canais fechados. Nem a internete e seus pseudos especialistas em segurança pública, deixavam de filosofar um discurso forçado em relação a tudo isso. O tuíter, o facebook, orkut, blogs, fotologs, sites de notícia, youtube: tudo era alvo da Vila da Penha.

As piadas não cessaram nesse momento: São Cosme e São Damião ficaram mais tempo no Rio de Janeiro por não ter dado conta de toda distribuição das balas, ou Vou para o Rio de Janeiro comprar um carro porque lá tá tendo uma grande queima de automóveis. Entre outros humores desnecessários.

Não tive medo dessa cena oriente médio no continente sul americano. Meu pai é super preocupado comigo e na sexta feira teve atividade na carceragem de Nova Iguaçu, onde eu faço meus estudos antropológicos toda semana, e eu teria de ir encontrar Julio Ludemir. Não poderia deixar de ir naquele dia apesar da troca de tiros na praça do skate. Presenciei um momento histórico na cidade e não perderei a piadinha de contar a minha futura filha Fernanda de que eu encenei uma palestina sul americana nas vibrações orientais.

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