Mocinhas de Noel

sábado, 11 de dezembro de 2010

por Yasmin Thayná

Na última sexta-feira, pontualmente às duas da tarde na sala Multiuso 1 do Sesc de Nova Iguaçu, Ana Nogueira e Jujuba foram os responsáveis em contar de forma divertida a história de Noel Rosa - A fina flor da Vila, para 50 mocinhas de cabelo branco.

O espetáculo literomusical em homenagem à vida e obra do compositor Noel Rosa foi contado e cantado por esses dois atores, que exaltaram a poesia através de suas canções revelando a história dos bairros de Vila Isabel e adjacências.


O cenário foi montado por elas: as meninas do Noel. Com corações, estrelas, poesias; fotografias do ídolo colado nas paredes da sala, fitas penduradas no teto e o largo salão que foi aquecido dias antes para o samba de roda delas, revelando o carinho que possuem pela música e por aquele tão esperado dia.

Os dois atores da produtora Cantos do Rio recitaram as poesias e histórias com instrumentos musicais, atraindo a atenção do público e divertindo-o. Enquanto Ana contava a história da Festa no céu que valoriza o linguajar popular do narrador e fala da tal festa de casamento do Leão comentando o jeito que os bichos participaram no dia da mentira no céu, o músico, ator e origamista de dez segundos Jujuba aproveitava malandramente o tempo em que Ana ia recitando para construir os bichos e dar de presente ao público feminino da terceira idade.

Passando pela época das "Melindrosas", "Bando de Tangarás" e a música "Conversa de botequim," do ilustre Noel, "o grupo de dois" interpreta a desobediência de Noel por conta da boemia. Sua mãe preocupada resolve esconder suas roupas e o jovem compõe o seu desespero no samba "Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?" Em seguida, Ana narrou: "o Brasil perdeu um médico, mas ganhou um grande sambista".

Outra história que veio à baila foi a rivalidade musical com Wilson Batista, que fez uma crítica ao Noel com o "cuide do seu microfone e deixe quem é malandro em paz. Injusto é seu comentário. Fala de malandro quem é otário". A resposta de Noel foi igualmente em grande estilo. "Tendo nome de princesa, transformou o samba num feitiço decente que prende a gente. O sol da Vila é triste. Samba não assiste porque a gente implora: sol, pelo amor de Deus, não vem agora. Que as morenas vão logo embora."

Com toda essa briga inteligente, a moçada da terceira idade reinterpretava com alegria os sambas balançando suas saias coloridas, vestidos, salto, brincos brilhantes, colares, maquiagens e toda vaidade que completavam a elegância feminina que não desaprende a balançar, de forma ímpar, o quadril.
Noel, mesmo com seus vinte e sete anos, escreveu mais de duzentas e cinquenta músicas. Cresceu, viveu e morreu em Vila Isabel e deixou pronta a canção "Fita Amarela" que é uma espécie de orientação, para o povo que sambava pôr em prática, no dia de sua morte. Ana Nogueira e Jujuba deixa o palco com essa orientação sorrindo, tocando, sambando; cantando defnitivamente a despedida com a "bate o sino"

O contos do Rio têm 5 anos. Porém, Jujuba e Ana trabalham juntos desde a participação numa companhia de teatro onde os dois resolveram trabalhar em dupla contando histórias pelo Brasil, o que soma quinze anos de trabalho. "Eu era muito novo quando conheci a Ana. Deveria ter meus 15 anos," e ela completa "e eu tinha 2 anos," brincam. O trabalho específico de Noel Rosa já foi feito cinco vezes sofrendo devidas modificações, como essa última apresentação onde eles mesclaram a contação com a música.
Com inúmeros outros, os dois divulgam temas que fala sobre ecologia, a importância da literatura, homenagem a Monteiro Lobato, Machado de Assis; procurando, assim, sempre o viés literário e musical objetivando temas que tenham a construção social para a criança, o adulto e a terceira idade. "Trabalhar com a terceira idade é ótimo. Elas são lindas. É um delícia resgatar essas canções," disse Ana.

                              fotografia retirada do blog: http://jujubaeananogueira.blogspot.com/


Moradores da Cidade do Rio de Janeiro, o carro-céu-de histórias é um Gurgel Carajás que é um palco sobre rodas onde eles chegam na rua e montam o espetáculo. "A gente conta história pra todo mundo: criança, adulto... Quem parar pra ouvir, a gente tá contando," "até os bichos," brinca Jujuba.
O Gurgel já viajou com esse trabalho para a Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná. E, no Estado do Rio Já foram à trinta cidades esse ano "já fizemos a loucura de viajar em dezesseis cidades em uma semana fazendo, no mínimo, duas apresentações por dia." Depois foram á seis cidades de Ouro Preto. "Nosso trabalho é muito ligado a questão teatral e musical. Mesmo contando história, utilizamos esse recurso o tempo todo. É quase uma distinção, ou melhor, o teatro conta uma história." .

Quem disse que a terceira idade não é feliz?
O grande baile foi feito naquela tarde de sexta feira. E por mais simples que tenha sido, elas sambaram, riram, conversaram, soltaram confeito de papel e cantaram músicas ensaiadas com suas colegas de projeto. Professor Beto cantou "Isto aqui, o que é," de Ary Barroso. "Madalena," de Ivan Lins e outras canções que as fizeram sambar mostrando a sua alegria de estar ali. No desenrolar da história, o professor foi chamando os grupos que cantariam as músicas que já tinham ensaiado. Algumas de Noel. Outras eram as famosas Marchinhas de Carnaval.
Emílio Peixoto era o único homem que estava desde o iníco do evento com as mulheres. Capixaba e morador de Nova Iguaçu, conta que foi passar a tarde com a sua esposa Dionice Souza que participa do projeto. "Adorei isso. Maravilhoso. Gostei e ainda estou gostando de participar." Casados há 6 anos, Dionice ao revelar a idade de seu casamento, ressalta "achei e panhei ele pra mim," brinca. Seu Emílio conta que, ao voltar do trabalho passando por Vila Isabel, sempre via um barzinho com um grupo de moças sambando e rapazes tocando as músicas de Noel "na verdade a gente samba Noel em qualquer lugar."

Conhecido como Beto Rocha, o professor Iguaçuano que possui a voz parecida com a de Arnaldo Antunes, ensaia músicas com as senhoras no projeto "diversos cantados", cujo objetivo é resgatar músicas que elas curtiram e que marcaram época. "Elas vieram com uma relação enorme de músicas que mexeram com o passado delas e o presente de Noel foi para comemorar o centenário dele." Beto Rocha trabalha com Fernanda Moraes cantando nas igrejas. É compositor e faz parceria com os cantores da Baixada Fluminense. Já fez trabalho com o poeta Salgado Magalhães musicando as poesias. As senhoras representam na vida de Beto mais do que ensinar: ele aprende com elas. "não tem preço que pague trabalhar com elas."

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