Minha cantora favorita

quinta-feira, 31 de março de 2011

por Lucas Xavier


Malena Cabral Xavier nasceu no dia 25 de maio de 1965. A penúltima na linhagem de seis filhos de Marly Cabral Xavier e Sylvestre Rothier Xavier. Com apenas 9 anos de idade, ela viria a descobrir em si mesma uma coisa que viraria sua marca registrada durante toda sua vida: a voz. Num pequeno festival de música onde dividiu o palco com sua irmã Marília, Malena percebeu nos aplausos do público que talvez cantar fosse sua vocação. Aquele era seu início na música. Afinal, como ela mesma diz: “Foi ali que eu vi que sabia cantar.” Os aplausos entraram em seus ouvidos, e plantaram sonhos.

Porém, uma vida humilde em Nova Iguaçu nunca foi a mais favorável ao desenvolvimento artístico de uma jovem aspirante à cantora, que cresceu se alimentando dos sonhos cultivados na infância. Na adolescência, Malena não mostrou a ninguém - que não fosse de seu círculo social – seu dom artístico. Cantava sozinha, pensando no futuro. Imaginando como as pessoas que conhecia se sentiriam ao vê-la no sucesso. Imaginava-se como compositora de suas músicas preferidas. Malena sempre foi sonhadora, até hoje. Quando perguntada se gostaria de fazer sucesso agora na música, ela responde: "Mas pode ser que eu possa me tornar uma cantora ainda. Quem sabe nos meus 60 anos eu não faça sucesso?"



Porém, os motivos que a separam de um possível estouro no mundo da música são exatamente os mesmos de tempos atrás. Na adolescência, Malena imaginava que seu talento abriria todas as portas e que por isso não havia com o que se preocupar. Passada a adolescência, ela descobriu que jamais teve tempo para se dedicar inteiramente à música, e que isso faria a maior diferença. Para dizer que nunca teve acesso à técnica, aproveitou os anos de UFF, onde se formou em biblioteconomia, para ter aulas de canto com o maestro do coral da universidade. Depois do coral, ela voltaria – mesmo que de uma maneira muito pouco promissora - a cantar: "Eu acho que cantar em bares só me atrasou. Eu achava que aquilo estava me guiando, que ia me abrir portas. Mas não, aquilo não tinha futuro. Nem mesmo o dinheiro era muito bom. Eles te falam um valor e, por vezes, esse valor vem reduzido... Enfim, eu cantava apenas porque eu gostava."

Cantando em bares, Malena fez muitos amigos, que como ela, eram artistas em busca de um lugar ao sol. Nenhum deles chamou tanto sua atenção quanto Márcio Aquino: "Ele era excelente. A gente tocou muito juntos. Ele deve ser o maior violonista de Nova Iguaçu, junto com outro músico que também admiro muito, o Evandro Lima", arrisca ela, apesar do receio de ser injusta com os inúmeros artistas talentosos da Baixada Fluminense com que dividiu palco.

Elogios na rua
Apesar dos pesares, a carreira nos bares lhe rendeu muitos fãs. Até hoje, andando nas ruas do centro de Nova Iguaçu, encontra uma ou outra pessoa que se lembra dela: "Sempre aparece alguém me elogiando e dizendo que me via cantar. É legal, porque faz tempo que não canto em bares, e mesmo assim ainda lembram-se de mim."

Malena chegou a interessar pessoas que viam nela uma potencial estrela. Gravou, em estúdio, um CD onde cantou dance music. Ela lembra a sensação de entrar em estúdio pela primeira vez, e não consegue esconder a emoção ao falar: "Quando eu entrei ali, eu pensei: 'Uau, é isso que eu sou. É isso que eu quero e vou fazer.' Infelizmente, aquilo não significou muita coisa. O CD foi lançado, todos elogiaram minha voz, falaram que canto bem, mas foi só. Não recebi nenhuma outra proposta."

A época em que gravou o CD em estúdio foi a época em que estava grávida de mim. Perguntei-lhe, é claro, se aquilo atrapalhou de alguma forma seu desenvolvimento como cantora: "A gravidez travou a carreira musical, um pouco. Mas não me arrependo. Era um sonho sendo substituído por outro de valor ainda maior. Hoje posso não ser a cantora que sonhava ser, mas sou mãe, e não substituiria isso por nada."

Gravidez
Além de mim, que nasci em 1994, Malena teve Júlia, nascida dois anos depois, em 1996. Os filhos passariam a ser seu público principal, e passariam a ouvir cantar a voz que sempre foi aplaudida nos palcos de Nova Iguaçu e da Baixada Fluminense. Se ela nunca tivesse cantado, e eu tivesse descoberto seu talento apenas muitos anos depois de nascer, eu provavelmente falaria: “Uau, você tem que gravar isso!”. Mas eu cresci ouvindo-a cantar, todos os dias ela canta. Dá pra ver que ela ama, que está no sangue dela. Então nunca me surpreendi. Sempre escuto as pessoas elogiando a voz de minha mãe, e sinceramente, quando começo a escutar de alguém: “Cara, escutei sua mãe cantando”, já sei o que vem em seguida. É rotineiro.

Agora, aos 44 anos, Malena relembra os sonhos de infância, e assume ainda alimentá-los, com esperança de que seu inegável talento seja mais reconhecido no futuro. Malena trabalha como professora de inglês no curso Brasas, onde todos sabem de seu talento. A carreira como professora também foi um dos fatores que a levaram a deixar a carreira musical de lado. Mesmo assim, não esconde o otimismo. "Se convidassem para gravar outro CD, eu diria que sim. Sem dúvida, eu diria que sim. Agora, meus filhos estão maiores, não preciso gastar tanto tempo em casa. Mas eu também não espero que nada apareça agora, estou bem como professora, não tenho muito tempo para correr atrás. Mas se aparecesse uma oportunidade de cantar, eu aceitaria", diz ela, visivelmente esperançosa, mas mantendo os pés no chão.

Mesmo depois de muitos shows e muitos parceiros musicais, ela não se dá por satisfeita. Ainda sonha com o que sempre aprendeu a ver como meta: o sucesso. Quem sabe, como ela mesma diz, ele não acabe acontecendo? Afinal, não se pode ver o futuro, mas quem sabe ele reserve para Malena o som que representa de forma mais completa a sua vida: aplausos.

7 Comentários:

Julio Ludemir disse...

Cara Malena. Caro Lucas
Editei quase aos prantos este belíssimo texto, que é o ponto de partida de uma carreira brilhante pela frente. Parabéns, Malena, pelo seu filho. Lucas, por favor, tenha juízo e foco que você vai ouvir muito mais aplausos do que sua mãe jamais imaginou. Nem para ela nem para você.

Hosana Souza disse...

Não sei nem o que comentar. Parabéns Lucas. Malena linda.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Uauuuu putz uau, estou impressionada e digo mais foi o "Mozart" que ela colocou pra vc escutar. Amo muito vcs

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Nossa filho! Chorei aqui relendo isso depois de 6 anos que foi escrito. Obrigada pelo texto lindo e que relata uma faceta muito importante de mim. Te amo

Unknown disse...

Nossa filho, chorei aqui relendo isso depois de 6 anos que foi escrito. Obrigada pelo texto lindo e que relata uma faceta muito importante de mim. Te amo.

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