Clube das crianças

terça-feira, 26 de abril de 2011

por Jefferson Loyola



Cerca de 30 educadoras se reuniram na terça-feira 12 de abril no Espaço Cultural Sylvio Monteiro para participar do Primeiro Encontro de Incentivo à Leitura, organizado pela Rede Comunitária de Formação e Estágio, que oferece formação para educadoras de centros de educação infantil comunitária em programas de incentivo à leitura, artes, saúde e educação pela paz.

Iniciado às 10 horas da manhã, o evento começou com uma roda de conversa com o escritor Zé Zuca (José Carlos), que contou sua trajetória de vida até se tornar autor de literatura infantil. Foi uma longa história. "Quando era criança, cantei uma música em uma festa na escola onde cada pessoa apresentava o que sabia fazer", lembra ele, que como não conseguia gravar o poema a que se propunha recitar, acatou o conselho da professora a que pediu ajuda. Quando viu a escola cheia, ficou tão nervoso que mal acreditou ao ver que a plateia estava aplaudindo-o de pé. “Pensei que eu tinha cantado muito mal, mas quando vi todos lá aplaudindo, fiquei feliz”, contou ele, afirmando que sua mãe sempre diz que ele já nasceu cantando.




Durante a adolescência, foi quase um garoto como todos os outros, que gostava dos Beatles e Rolling Stones". A diferença é que, depois de aprender a tocar violão, começou a compor duas a três músicas por dia até se tornar inevitável o caminho dos festivais. "Também fui estudar música na na UFF (Universidade Federal Fluminense)", contou. Foi na universidade que fez amizade com um grupo de estudantes de psicologia que tinha um clubinho para crianças. "Embarquei na ideia e fiz uma música para o clube, que durou um tempo, mas depois as pessoas foram perdendo o estímulo."


A UFF desmontou a faculdade que ele estava cursando depois de dois anos e, por causa da experiência com o clube das crianças, resolveu fazer pedagogia. Todos disseram que estava louco, pois um artista não deveria seguir a carreira de orientador educacional, mas ele seguiu. "Mora em Madureira, trabalha em São Cristovão e estuda em Niterói", brincou ele, relembrando o que o pessoal dizia durante a época de faculdade. O que mostrava as várias funções que ele exercia naquela época.


Mesmo fazendo pedagogia, sua vida na área artística seguiu e caiu de pára-quedas no teatro. "Eu queria trabalhar com teatro infantil e perguntei onde poderia encontrar o melhor lugar que se fazia teatro para crianças na época", revelou. Indicaram o nome de Silvia Orthof, que ele procurou no teatro em que ela estava ensaiando um espetáculo. “Ela me perguntou se eu tocava e cantava e, como disse que sim, ela pediu para demonstrar no palco”, disse, emocionando-se. A interpretação de “A casa rosa da moça verde” lhe garantiu uma parceria que culminaria com a adaptação para teatro do seu primeiro livro, feita por Orthof.


Passou cinco anos em Amesterdã depois de se separar da mulher. Lá foi diretor de um espaço cultural chamado ‘Paradiso’, no qual trabalhou com cultura brasileira. “Ressalto que é importante para outros jovens irem para outros lugares para vivenciar uma nova cultura e alargar os horizontes”, aconselhou. Quando viu que já tinha se doado por completo em Amsterdã, e já não tinha mais o que fazer, voltou decidido a trabalhar com crianças no meio da arte, música e teatro. "Cheguei já indo trabalhar no programa de auditório infantil  Rádio Maluca, que antigamente era transmitido pela rádio MEC e hoje é transmitido pela rádio Nacional.” Quem quiser participar do programa, basta levar suas crianças para a Praça Mauá, no centro do Rio, aos sábados.


Ao longo de sua carreira gravou sete Cds de músicas infantis e aos poucos foi escrevendo literatura infantil. "Como escritor eu ainda estou aprendendo, iniciando”, disse ele, embora já tenha quatro livros publicados. O primeiro livro, “Casa de caramujo”, só não o deixou completamente realizado porque a editora Vozes não quis reeditá-lo, depois de esgotados os primeiros 7 mil exemplares. “Fiz um acordo que seria pago a mim sete por cento de direitos autorais na primeira edição e nas outras me pagariam dez por cento. Mas a editora não quis publicar a segunda edição, dando por esgotado”, desabafou ele, comentando que ainda procurará outra editora para reeditar seu primeiro livro.


A desagradável experiência não foi suficiente para traumatizá-lo e logo estaria publicando "Amigos do peito", uma história, acompanhada de um CD com ilustrações de Bia Salgueiro, de amizades entre bichos que nunca se dariam bem juntos. "Mostro que a amizade pode acontecer de pessoas muito diferentes", disse ele. O terceiro livro, "Vou contar um segredo", foi inspirado nos medos de sua filha Lara, de 11 anos. A apresentação do ultimo livro, “Avó com cheiro de pão caseiro”, foi assinada por ninguém menos do que Ziraldo.


Mesmo com todas essas conquistas na área da literatura infanto-juvenil, ele se considera um iniciante. “Muito do que eu escrevi foi rejeitado, mas hoje só envio os originais quando tenho certeza de que ele está no ponto", afirmou. Para a reunião ele levou seu ultimo trabalho que será publicado em uma coletânea com o tema “trem”, que reúne contos de vários escritores da associação de escritores e ilustradores. Seu conto chama se “O trem dos unicórnios”. "A ideia que surgiu após uma conversa com minha filha sobre a existência de unicórnios".


O conto deu origem a um debate sobre sonhos, curiosidades, limites e imaginação infantis. A roda de leitura com o autor foi encerrada e os participantes do encontro fizeram uma visita ao Espaço de Cultura Sylvio Monteiro guiada por Tiago Costa e viram a exposição “De Vila Iguassú à Iguassú Velha”, organizada pelo historiador e professor Ney Alberto. O dia terminou com a exibição de “Dona Cristina perdeu a memória”, um curta que trabalhou a memória com os participantes do encontro.

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