Nossa milésima matéria

terça-feira, 19 de abril de 2011

por Jéssica Oliveira

Pensei muito em como escreveria esta matéria. Pensei em ser a repórter que todos esperam que eu seja: imparcial, sucinta, clara e que informe apenas. No entanto, resolvi que não quero ser apenas isso. Hoje eu simplesmente resolvi me dar o prazer de desenhar estas linhas partindo da primeira pessoa do singular, deixando-me levar pura e simplesmente pelas minhas memórias, por aquilo que me é peculiar, me toca e que ganha valor sob minha perspectiva. Eu resolvi usar a maneira Jovem Repórter que aprendi a ser para contar um pouco de nossa história

Em 2008, a Escola Agência de Comunicação abria suas portas para todos que quisessem fazer parte dela. Foi com a chegada do blog Minha Rua Tem História, onde, de 30 repórteres, viramos 300. Eu cheguei nesse momento.




Foi em um domingo de chuva fina, a convite de meus amigos Marcos Paulo e Breno Marques, que fui até a quadra da Vila Olímpica de Nova Iguaçu e conheci parte dos jovens que participariam do projeto assim como eu.

Eu estava perdida, sem saber o que fazer e com quem falar. Foi quando me apresentaram a um sujeito de camisa do Flamengo e paletó azul marinho. Quando o vi, olhei com os olhos de preconceito, não crendo que aquela figura estranha seria o famoso Julio Ludemir que tanto ouvi falar dias antes.

Fiz cara de “entendida” e comecei a ouvir suas palavras frenéticas junto a outros que o cercavam em um semicírculo. “Vocês têm que ter iniciativa, responsabilidade e espírito de equipe”, disse repetidamente.

Depois daquele dia nada mais foi igual. Aquele instante foi chave para abrir a porta de um mundo que eu desconhecia. Não posso mentir: não sabia muito bem no que eu estava me metendo, tampouco o que deveria fazer, mas fui, pois sentia que era o certo.


Os dias foram passando e o Minha Rua Tem História chegou ao fim, dando lugar ao blog Jovem Repórter. Este tempo, para mim, foi introdutório, onde cada dia representava uma nova descoberta de experiências, perspectivas, histórias e principalmente pessoas.

No primeiro momento, houve um estranhamento. Quando cheguei me contaram que era um projeto de jornalismo, mas eu achava que os perfis dos participantes não se encaixavam no tema. Definitivamente eu custei a entender a proposta do Jovem Repórter.

Demorei a perceber que o diferencial do Jovem Repórter era não se enquadrar no jornalismo “terno e gravata”, mas sim, um jornalismo feito por gente que usa bermuda e camiseta, dança funk ou que pinta o cabelo de verde.



Felizmente, o meu envolvimento com o projeto serviu primeiramente para me fazer sair de uma bolha que embaçava a minha visão. Não via que a melhor parte do Jovem Repórter era a palavra “jovem”, a qual está embutida a ideia de “individualidade”.

Com paciência e ajuda, percebi a tempo e passei a apreciar o fato de sermos diversos. Desde o início fomos compostos por roqueiros, evangélicos, pagodeiros, patricinhas, militantes políticos, funkeiros, gente rica, gente pobre, do Centro de Nova Iguaçu, do Km 32. Esse sempre foi o nosso diferencial. Meu estilo formal de tratar as matérias se misturava com pessoas que dispensavam a “norma culta da língua” para abordar temas através de músicas, vídeos e fotografias.

Com certeza, desde o início, nós fugimos do normal, do esperado. Mas hoje em dia quem quer ser igual ao resto? Nós nunca queremos. Somos diferentes, temos rostos diferentes, modos de vestir e agir diferentes, linguajar, costumes, crenças, sexualidade e, sobretudo, pontos de vista diferentes. Nós somos indivíduos que buscam, cada um ao seu modo, registrar e mostrar para o mundo tudo aquilo que enxergamos e que, aos nossos olhos, tem valor.



Falamos sobre conferências de cultura, mostras, feiras, filmes, livros e espetáculos. Falamos sobre a criança que estuda no horário integral, no ator que é camelô, do rapaz que usa o trem para estudar e da tia que vende suco de maracujá no calçadão. Falamos sobre tudo porque tudo é cultura, porque tudo o que está a nossa volta merece um olhar atencioso, pois até nas coisas mais simples e corriqueiras existe uma história incrível a ser revelada.

Viemos de lugares diferentes, percorremos caminhos que ninguém jamais percorrerá da mesma maneira. Temos jeitos de lidar com o que está a nossa volta de forma peculiar e liberdade de abordar esses temas da maneira que achamos melhor. E é essa diferença que nos une. É isso que nos faz ser Jovens Repórteres.


 Esta história que eu conto é diferente da história que a Josy, Mariane, Flávia, Lucas, Camila Elen, Hosana, Joaquim, Giselle, Edison, Desirée, Fernando ou tantos outros podem contar, pois cada um que passou ou que ainda faz parte desse projeto percorreu um caminho diferente, teve sensações diferentes, fez coisas diferentes.

O valor e a beleza do Jovem Repórter é uma fundição do valor e da beleza de cada um. Sob minha ótica, muitas coisas aconteceram, mudaram e formataram, dia após dia, o nosso projeto. Incontáveis momentos de alegria, tensão, brigas e companheirismos. Construímos mais que um projeto de jornalismo, mas parte do que somos hoje.

Poderia discorrer sobre a história do projeto durante horas e ainda assim não estaria completo. Por isso, firmando o que disse no começo desde texto, resolvi contar a minha versão da história. Uma história que continua sendo escrita por cada repórter, cada leitor, cada pessoa que nos inspira, cada sermão da montanha que o Julio nos dá, semana após semana. O que me recorda de trecho que ouvimos há pouco tempo desse flamenguista: “um dia, vocês vão encontrar com a minha filha e dirão ‘cara, o seu pai fez uma diferença na minha vida’. Não faço questão que digam isso pra mim, mas espero que digam”.


Com certeza aquele coroa fez diferença na vida de muitos jovens que tiveram o prazer de ser seus aprendizes. Mas não só ele. Cada pessoa que passou pelo Minha Rua Tem História, Jovem Repórter ou CulturaNI deixou uma marca que jamais será apagada, seja ele repórter, fotógrafo, editor ou coordenador.

E é assim, relembrando e agradecendo àqueles que ajudaram a escrever a história desse projeto, que eu, humildemente, comemoro nossa milésima matéria neste blog. A nós.

13 Comentários:

Mariane Dias disse...

QUE SAUDADE! FOI UMA EXPERIENCIA E TANTA PRA MIM ! COMEÇO DE TUDO, DAS AMIZADES, CONHECIMENTOS, OPORTUNIDADES, INTERESSES !

Juliana Portella disse...

Me orgulho em fazer parte desse projeto incrível que mudou a vida de tantos jovens, inclusive a minha.
PS: Jéssica, lindo o texto! Essa tua relação de amor com as palavras vai longe...

Joy disse...

É como se as palavras se tornassem imagens e eu as pudesse ver. Parabéns Jéssica, parabéns jovens repórteres e, mesmo com um mês de participação, parabéns a mim.
Sinto orgulho de entrar em um projeto tão bacana, e estou ansiosa para viver minhas histórias e estórias nele!

Luana Pinheiro disse...

Parabéns ao projeto e principalmente, parabéns para a Jéssica pelas palavras!

Vida longa galera!

Anônimo disse...

Tive a satisfação de conviver com Júlio entre a infância e adolescência,sendo sempre gentilmente recepcionado em sua casa.Saí de Olinda/PE há 28 anos atrás,desde então não nos reencontramos.Agora,surpreso de forma positiva,passo a ter uma idéia do trabalho que Júlio desenvolve.Quero parabenizá-lo,e a todos vocês,especialmente a Jéssica 'Jovem Repórter',pela bela matéria/depoimento.Aqui,o meu abraço e admiração.Sérgio Barbosa(Guaru)

Unknown disse...

Háá que Saudades!!!

Dariana disse...

Parabéns, Dé. Belíssimo texto!
Me senti muito bem representada...

Lucas Lima disse...

Odiado por muitos, amado por todos. Esse é o nosso Jovem Reporter. Ainda me sinto parte dele, pois tudo que sou hoje profissionalmente começou daí. Julio é para muitos um pai, um chefe, um chato, um ídolo, um heroi. E para mim especialmente, ele é uma pessoa admirável, não só isso, mas muito mais. Me orgulho mais ainda em fazer parte dos poucos que sairam do mesmo em busca de algo maior, e mais do que isso, decidiram atraves do JR seguir uma carreira dentro da comunicação. Não me vejo fazendo outra coisa e não farei, mesmo que venha a ser um jornalista frustrado. E isso começou por culpa de um homem grisalho e flameguista que um dia me disse: "Você tem todo talento e vontade, so falta se preparar e esperar" ou "Seus textos são tão curtos e lindos como você", enfim. Parabéns Jéssica pelo texto e parabéns a todos que estão, estiveram e estarão nesse projeto. Como foi dito, A nós!

Poemista disse...

Acompanhando de longe ,mas sentindo bem perto a satisfação de vcs!
Fazer a diferença neste sentido do texto,promover ,estimular ,revelar talentos
Evocar possibilidades e mudanças ,compartilhar os saltos desta geração
Isso enche de orgulho e esperança a quem participa
e tb pra quem acompanha e torce por vcs!

Parabéns
Hannar Alves.

Flávia Ferreira disse...

Bem, eu poderia ficar anos falando sobre o projeto que formou o que sou hoje, então limito-me a agradecer pela oportunidade dada, principalmente por Maria Antônia. Sem ela, nada disso existiria. Devo meus agradecimentos ao Fat e ao Nike pela ideia e por todo o apoio que deu aos reportéres nos tantos dias de edição e fome, quando nada ganhávamos para escrever, mas o fazíamos por amor, a muito tempo sinto falta disso no projeto. Por mais que os laços verdadeiro Jovem Repórter, que não era tão vendido aos meros conceitos da política, tenham acabado, eu fico feliz por ainda existir um resquício de vida desse projeto.

Desejo que um dia tudo volte a ser como era antes, que o Jovem Repórter volte a ser Jovem Repórter e não somente um palco para "chapa branquismo". Preciso resaltar que, o Cultura NI não é mais o Jovem Repórter que, assim como o próprio senhor Faustine deixou claro,ACABOU..

Me orgulho por ter feito parte da verdadeira família Jovem Repórter, replicando a palavra de Lucas Lima: "mais ainda em fazer parte dos poucos que saíram em busca de algo maior, e mais do que isso, decidiram atraves do JR seguir uma carreira dentro da comunicação".


EM SUMA, ACHO QUE FALTA UM POUCO MAIS DE TEIMOSIA, DE BUSCA, DE LUTA E DE ORGULHO...

Flávia Ferreira disse...

Bem, eu poderia ficar anos falando sobre o projeto que formou o que sou hoje, então limito-me a agradecer pela oportunidade dada por Maria Antônia. Sem ela, nada disso existiria. Devo meus agradecimentos ao Fat e ao Nike pela ideia e por todo o apoio que deram aos reportéres nos tantos dias de edição e fome, quando nada ganhávamos para escrever, mas o fazíamos por amor. A muito tempo sinto falta disso no projeto. Por mais que os laços verdadeiro Jovem Repórter, que não era tão vendido aos meros conceitos políticos tenham acabado, fico feliz por ainda existir um resquício de vida desse projeto.

Desejo que um dia tudo volte a ser como era antes, que o Jovem Repórter volte a ser Jovem Repórter e não somente um palco para "chapa branquismo". Preciso resaltar que, o Cultura NI não é mais o Jovem Repórter o qual, assim como o próprio senhor Faustine deixou claro,ACABOU..

Me orgulho por ter feito parte da verdadeira família JR, replicando a palavra de Lucas Lima: "mais ainda em fazer parte dos poucos que saíram em busca de algo maior, e mais do que isso, decidiram atraves do JR seguir uma carreira dentro da comunicação".


EM SUMA, ACHO QUE FALTA UM POUCO MAIS DE TEIMOSIA, DE BUSCA, DE LUTA E DE ORGULHO...

Mia disse...

Belíssimo texto! Tive que conter as lágrimas! Milhares de lembranças vieram!

matheus disse...

Sinto que o meu "tia do maracujá" marcou, heim

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