Sorria

domingo, 22 de maio de 2011

por Jéssica de Oliveira

Eu me lembro da minha mãe com uma câmera fotográfica sempre em mãos quando eu era criança. Analógica, claro. Eram doze poses muito felizes; às vezes 24 ou 36 – cada uma delas extremamente valiosas – e eu sempre adorei posar para suas fotos e esperar ansiosíssima o dia em que ela chegaria com todas elas reveladas, dentro daquele envelope branco e amarelo da Kodak, fazendo mistério ao tirá-las de seu interior. Torcíamos juntas para que nenhuma estivesse queimada. Seria uma foto a menos, um porta-retratos na estante a menos.

Hoje as coisas não são bem assim. As mães ainda carregam seus filhos em uma mão e uma câmera em outra, mas não existe mais todo aquele sentimento pela caixinha preta com uma roldana no topo para fazer girar o filme. Aquela caixinha de suspense e surpresas. Isso mudou, mas, felizmente, parece que foi apenas isso. É incrível ver como as pessoas cada vez mais carregam viciadamente suas câmeras fotográficas pra cima e pra baixo.

Na manhã de hoje, a Escola Municipal Monteiro Lobato, no Centro de Nova Iguaçu, foi palco de mais uma Ação Social promovida pela Prefeitura de Nova Iguaçu, através de sua Secretaria de Educação, e não era preciso se esforçar para avistar alguma figura fotografando uma criança fazendo poses.

Exemplo perfeito disso era a dona Luciana Mohamed, de 32 anos, que não evitava os flashes quando via sua filha Natasha, de 13 anos, na roda de capoeira que agitava o evento no pátio da escola. “Sempre que tem festa na escola, igreja, na rua, eu carrego a minha câmera”, conta exibindo a câmera digital, afirmando ainda não conseguir contabilizar o número de fotos que faz. “As câmeras de hoje em dia têm essa qualidade: a gente pode tirar quantas fotos quiser”.

Ainda na roda de capoeira do mestre Saci era fácil notar as câmeras erguidas. Assim como Luciana, Raimundo Sérgio Feitosa, 50 anos, também sempre leva consigo uma câmera. “Eu tenho essa aqui há uns dois meses. Eu tinha outra mais antiga, mas resolvi que estava na hora de trocar”. Morador de Rosas dos Ventos, seu Raimundo foi ao evento para ver seus netos, Everton e Sthefane Feitosa, trocarem de corda na capoeira. “Não podia faltar foto. Procuro estar com ela pra registrar tudo: casamento, batizado, aniversário da família”.

 Centenas de fotos sem o medo de “acabar as poses bem na hora de cantar Parabéns”, por exemplo. Mas pra onde elas vão? Seu Raimundo diz que todas suas fotos vão pro computador e posteriormente, pro site de relacionamentos Orkut. “Minha filha, Letícia, coloca todas as fotos lá. Eu tiro a foto e ela passa pro computador”, explica.

É interessante perceber que parece não existir um perfil específico para se fotografar. Talvez essa seja uma das atividades mais democráticas que existem, pois não importa se a câmera é uma Kodak profissional ou uma digital baratinha comprada nas Casas Bahia. O negócio é fotografar, posicionar a câmera frente aos olhos e eternizar os momentos. Não importa se for uma criança, jovem, adulto ou idoso. Prova disso é a Dona Arlete Antunes, que tem 71 anos e desfilava pelo evento com sua câmera na mão.

Vestida com a camisa do grupo de capoeira, dona Arlete esbanjava ânimo. “Sempre vou a eventos e levo a câmera junto”, conta a senhora que faz dança de salão no Espaço Fama e musculação em uma academia em Comendador Soares. “Tenho muitas fotos e passo todas para CDs para ver depois, quando estou à toa. Adoro fotos”, encerra, dizendo ter a fotografia amadora como hobby há dois anos. “As pessoas acham que velho tem que ficar em casa vendo TV e fazendo crochê. Tô fora!”.