domingo, 5 de junho de 2011
por Emerson Menezes (foto) e Jéssica de Oliveira (texto)
Na fria tarde desse sábado, 4 de junho, a Superintendência de Igualdade Racial do Governo do Estado do Rio de Janeiro realizou um seminário no tradicional Colégio Leopoldo, em Nova Iguaçu, cujo objetivo era promover uma discussão sobre o extermínio da juventude negra no estado fluminense.
O superintendente Marcelo Dias cita números que apontam o grande índice desse massacre da juventude, em especial, a negra: “O Rio é o quinto estado do país com mais mortes de jovens de 15 a 29 anos, atrás somente de Espírito Santo, Pernambuco, Alagoas e Distrito Federal. Essa vitimização da nossa juventude negra é muito grande”.
Segundo a ONU, o número tolerável de mortes de jovens nos estados é de 10 para cada 100 mil habitantes. O Rio de Janeiro, com 47 mortes, está longe de alcançar essa meta. “São Paulo, aqui do lado, tem um índice de 13 mortes para cada 100 mil habitantes. Eles estão quase alcançando a meta desejada. Estão ‘bem na fita’”, completa Marcelo Dias.
Ajudando a compor a mesa desse seminário, Silvia Regina Andrade, secretária de cultura e turismo de Nova Iguaçu, revela seu desapontamento ao ver que a presença da juventude, alvo principal de todo trabalho, foi fraca: “Nós fizemos um grande trabalho de divulgação, então eu esperava ver esse seminário mais cheio. O que parece é que o jovem não está interessado, não está acreditando que pode conseguir políticas públicas para ele”.
Para contextualizar sua preocupação com o tratamento que a juventude negra recebe e seu desinteresse em lutar pelos seus direitos, a secretária cita um fato que ocorreu com um familiar: “Eu tenho um enteado negro que trabalha na Petrobrás e foi viajar pra França. Quando ele foi entregar a passagem no portão de embarque do aeroporto, perguntaram pra ele: ‘ô negão! Você é artista ou jogador de futebol?’. Quando o pai dele foi reagir, ele disse: ‘deixa pra lá’”. Para Silvia, a reação do seu enteado é preocupante, pois, segundo ela, “o ‘deixa pra lá’ que ele deu é o mesmo ‘deixa pra lá’ que o jovem que não participa do seminário está dando”.
Em sua fala, Marcelo Dias afirma que haver políticas públicas voltadas para a juventude negra é o pagamento de uma dívida que o país tem com a comunidade afrodescendente há séculos e ainda conta que o extermínio dessa juventude vai além da ação de “dar um tiro na pessoa”: “Se você não forma essa juventude, não dá cursos técnicos e profissionalizantes, ela vai seguir o caminho mais fácil, não um caminho em que precisa estudar e se formar. Então o extermínio da juventude não é só matar, mas não dar oportunidade pra ela crescer na sociedade”.
O superintendente finaliza seu discurso contando que este seminário – assim como outros realizados em outras regiões - pretende culminar em um grande seminário, que visa levar um diagnóstico ao Governo do Estado para que o mesmo possa apresentar políticas públicas para reverter este cenário.
A próxima reunião contínua do seminário será nesta segunda-feira, no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, localizado na Rua Getúlio Vargas, 51, Centro de Nova Iguaçu.
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