por Raize Souza
O dia dos pais, assim como outras comemorações, provavelmente foi inventado para movimentar o comércio. Mas essa tradição mexe com os sentimentos ao ponto de querermos transformar momentos que deveriam ser normais em especiais, demonstrando nosso afeto.
Por esse motivo você certamente passou o dia dos pais com seu pai, sua mãe e seus irmãos. Sua mãe, provavelmente, deve ter feito um almoço especial, ou vocês simplesmente saíram para almoçar em um dia com muitos abraços e presentes, ou não. Mas em certa casa do bairro Vila Kosmos, na cidade do Rio de Janeiro, habitada por sete mulheres e, às vezes, dois homens, o dia dos pais é diferente, ele é sem pai.
A primeira mulher é mais conhecida como Tia Marí é a dona da casa. Trabalha como secretária de uma empresa de assessoria de engenharia e é mãe, e muitas vezes pai, tanto dos filhos biológicos quanto das cinco meninas “adotadas”. “Mesmo que a data seja para comemorar um ‘homem’, eu me sinto orgulhosa em tentar fazer esse papel. Na vida têm mães que são pais e mães, eu também tento fazer isso em benefício de vocês”, comenta a Tia.
Seus filhos biológicos são Pedro Lopes, de 17 anos, e Thaísa Lopes, 24 anos, e a história das “adoções” de Marí começaram há oito anos com Eliane Guerreiro em Crateús CE. Depois veio Nanamaina Viana, carioca que hoje faz intercâmbio nos Estados Unidos, às vezes fica na casa da Tia e outras na casa do pai, que também é do Rio de Janeiro. Há um ano Marcella Rocha chegou à família, vindo diretamente de Recife PE. Em dezembro de 2010 a Tia “adotou” Iara Eloane, de Crateús CE e para fechar a casa das sete mulheres, em março de 2011 chegou Raize Souza, pernambucana arretada, também conhecida como aquela que vos escreve.
Todas as cinco meninas saíram de suas casas buscando alcançar seus objetivos profissionais. Numa brincadeira, Tia Marí diz que “Elas são filhas de chocadeira para crescer e para estudar”. Mas o mais importante dessa hospedagem são as lições de vida aprendidas.
Quem se questiona sobre como é dividir o pai, a mãe e a casa com cinco inquilinas Thaisa simplesmente diz que “É normal. Eu acho que a palavra não é dividir, é compartilhar. Dividir parece que cada um pega um pedaço e acabou, compartilhar não, está todo mundo usufruindo da mesma coisa juntos. Não acho que seja dividir o meu quarto, a minha mãe, o meu pai, acho que estamos compartilhando”, explica, “É legal, porque tudo é uma troca. Cada um tem seu jeito, com a convivência aprendemos a lidar com as diferenças o que nos faz você crescer como ser humano. Não vejo uma coisa ruim ou que estou perdendo um espaço, nesse espacinho que a pessoa chega junto nós aprendemos”, conta ela, que até curte a casa lotada.
O patriarca dessa família trabalha no projeto da Hidrelétrica de Belo Monte. Na antiga rotina ele passava em torno de três meses no Pará, fazendo estudo dos solos, e quando voltava ficava dez dias em casa. Mas nesse mês ele passou a supervisão das obras e a carga de trabalho diminuiu, sendo agora apenas cinquenta dias na Região Norte. Só que, infelizmente, os dias não bateram e o dia dos pais dessa família foi, mais uma vez, sem pai.
Agora, finalizada as apresentações e explicações, vamos voltar ao dia 14/08. Como não tinha nenhum pai na casa, cada uma foi levantando quando a preguiça permitia. Com exceção de Pedrinho, escolhido para as compras semanais e Tia Mari que havia acordado cedo para fazer um almoço especial, a data não poderia passar em branco.
No almoço a família recebeu Tia Rose e o pai da Nanamaina, Tio Wilson, que unindo a ausência que ele sentia por passar o 1º dia dos pais sem sua filha e a das garotas que estavam passando sem seus pais, transformou à tarde em mais alegre, com uma mistura de futebol na TV, filmes, competições no vídeo game, conversas, e é claro longas ligações para os pais.
Acostumados com a ausência do seu pai devido às viagens de trabalho Thaisa e Pedro consideram a data um dia normal. “Não vou deixar de ter meu pai porque ele não está perto de mim, é só mais um dia sem meu pai por perto. Já acostumei a vê-lo no máximo uns três meses durante o ano”, revela Thaisa.
Iara e Eliane também acharam o dia um dia normal. “Mesmo quando morava no Ceará às vezes não passava o dia dos pais com meu pai porque eles são separados e ele mora numa cidade diferente da de minha mãe”, diz Iara, que não sentiu muita dificuldade. Já Eliane revela que “Mesmo morando aqui há oito anos e já tendo “acostumado”, é diferente. Queria estar do lado dele, abraçar. Lidar com a ausência dele é pior ainda”, conta.
Esse foi o segundo ano de Marcella sem seu pai. “O primeiro foi muito pior”, diz, “Tínhamos o costume de todo ano acordá-lo com um ‘presente surpresa’. Quando acordei aqui e vi que ele não estava e consequentemente que não poderia fazer alguma brincadeira foi bem difícil. Eu pensava ‘Cadê meu pai?’”, completa, “Fui levando com a ajuda de meus primos - como ela chama as cinco mulheres e Pedro. Esse ano já foi mais tranquilo, não da pra morrer porque passei um dia do pai sem meu pai. Ele não estava aqui em presença física mas está sempre no coração”, finaliza.
Uma tarde que para muitos podia ser de lamentação, para essa família foi mais um dia de união. Afinal a vida apresenta certas dificuldades e precisamos ser fortes para buscar a felicidade nelas. Se brincarem chamando essas meninas de filhas de chocadeira, eu falo sério quando chamando todas de filhas da coragem.
12 Comentários:
Se não tiver com paciência de ler tudo , pule o 4°(talvez),6° e o 7° parágrafos. Dica da autora ;)
É muito lindo ver o carinho que a Tia Mari tem pelas suas filhas adotadas. Vejo também a força em que Tia Mari tem pra cuidar de tanta gente e tratar todas como igual.
Acho que vocês são as "filhas de chocadeira" mais felizes! ^^
A autora ta de parabéns mais uma vez não só pela matéria, mas por expor a vida da sua "família" do Rio e mostrar pra todos como é lindo o amor de vocês.
Aqui não dá pra se sentir uma agregada, me sinto parte da familia lala =D, minha familia do Rio.
Parabéns Raíze! adorei o que você escreveu, ri, chorei, rsrsrsrsrsrssrsrs, estou muito feliz por todas vocês! Que Deus abençõe e proteja cada uma de vocês!
Beijos!
Márcia
Raíze, Temos que agradecer a DEUS por ele ter colocado em nossas vidas Mari e França,hehehehehe e que as nossas famílias permaneçam SEMPRE na PAZ e SEMPRE em HARMONIA!
Mas uma vez parabéns jornalista!
Beijos,
Márcia Rocha
Ra, ficou excelente a matéria!! Fico muito feliz de ver como a cada matéria vc se aprimora ainda mais e mais... ao infinito e além prima midiática!!hehehehee
Bjao
VALEU MINHA JORNALISTA, VC REALMENTE É ESPECIAL. TE AMOOOOOOOOOOO.
Ra ficou muito bom, a cada dia vc supera ainda mais os seus objetivos e nos surpreende com tamanha delicadeza com as palavras. Parabéns, beijos ! Iara Eloane '
Rai,não dá para pular nem uma linha , quanto mais um capitulo, está simplesmente maravilhoso.Te amooooooooooooooooo. Tia sollllllllllll
Raize ficou ótima a matéria!! tá de parabéns!!!
Oh Raíze, só hoje consegui lê esta reportagem e mais uma vez amei!
Essa "FAMÍLIA" composta por 04 integrantes, é realmente "MUITO ESPECIAL". Faltam palavras para definir a "TIA MARI". Sei que seu coração é muito grande, pela felicidade que ela demonstra sentir ao proporcionar as "FILHAS ADOTIVAS" meios para realizações dos seus sonhos. Na realidade vocês não são filhas de chocadeira. Vocês são FILHAS DA CORAGEM!
Parabéns, por você ter conseguido falar sobre o Dia dos Pais, abordando esta vivênvia de vocês em meio a tantos sentimentos nobres
Beijos, te amo!!!
Elaine
Parabéns Raíze, com as abordagens dos sentimentos expressos por cada um dos integrantes desta "família" podemos perceber a versatilidade dos sentimentos dos seres humanos, do saudosista ao "forte" que no fundo também pode estar sentindo a perda momentânea do aconchego paterno. E parabéns a tia Mari, que exerce um papel bem diversificado de amiga, tia, mãe, pai, etc. Beijos.
Tia Carminha
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