por Robert Tavares
As fotos foram tiradas ao longo de toda uma vida dedicada a registrar cada detalhe que passava diante de seus olhos. “A primeira máquina fotográfica que usei foi a de um namorado”, conta a aposentada, que na época tinha mais ou menos 17 anos. “Ele trabalhava com lambe-lambe.
Ela tomou gosto pela coisa e comprou sua própria me lá pra cá, com a qual registrou os momentos mais emocionantes de suas viagens, casamentos, filhos. O principal objetivo de reuni-las na exposição em cartaz na Casa de Santa Lurdes é mostrá-las para os netos.
E eles a receberam com uma salva de palmas no dia da inauguração da exposição, no dia 28 de novembro, em um espaço montado especialmente para receber sua “obra de arte”, no dizer de Adelaine Martins, amiga e admiradora de Margareth, com quem pode compartilhar alguns dos momentos ali emoldurados.
A ideia da exposição foi de Marianah da Silva, a orgulhosa filha caçula de dona Margareth. Mas nada disso teria acontecido sem o entusiasmo de Flora Siedschlag, diretora da Casa de Santa Lurdes, para quem apoiar e incentivar a arte de “pessoas de verdade” é tão válido quanto expor e apoiar obras de Frida Kahlo ou Almodóvar. “Esse tipo de arte desperta a curiosidade das pessoas, que querem saber o que uma senhora com idade tão avançada tem de tão importante para estar causando tanto burburinho aqui na região”, explica.
Margareth da Silva jamais fez cursos para apurar o que ela chama de “um dom nato”. “Cada um nasce com um dom, e esse é o meu”, afirma a fotógrafa. Além de ter um “olhar clínico” para captar um momento digno de registro, essa baiana de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, sugere que só se escolha as fotos favoritas depois de muitos cliques. “Assim você tem mais opções”, diz.
Muito lúcida e dominando cada consoante que sai de sua boca, dona Margareth convidou o público para formar uma roda em torno dela antes de começar a criar uma linha do tempo por intermédio de um antigo álbum de fotografias. “É uma vida vivida e vencida”, resumiu um emocionado Bruno Catalino, quando a fotógrafa concluiu sua bela história.
“Creio que esta exposição é uma empreitada gratificante, uma experiência prazerosa, nos une como pessoas e nos dá um novo ânimo e gás para a produção artística. Diferentemente de qualquer tipo de revival, de certa forma ela se apresenta como um porra-loquismo mais sedimentado pelas trajetórias individuais, mas que aqui estão juntos para este esforço comum. Bendita Santa Camaradagem", finaliza dona Margareth.
Adepta de “uma irreligiosidade feroz”, a fotógrafa nunca separou o místico daquilo que os cartesianos chamam de real. Para ela, o sagrado e o corriqueiro se entrelaçam. Um explica e alicerça o outro. Tal convicção, que a artista manifesta com uma naturalidade às vezes desconcertante, estimula um divertido folclore em torno dela e de suas fotografias, uma profusão de lendas que a tomam por feiticeira das fotos ou algo assim.
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