Agentes da mudança

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

por Carine Caitano

Toda segunda-feira, rola no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, no centro de Nova Iguaçu, uma reunião com os responsáveis pelos Pontinhos de Cultura, a fim de moldar o trabalho da galera. Não entendeu? O Cultura NI explica.

Em Nova Iguaçu, os alunos das escolas municipais são contemplados com o horário integral. Em um turno, eles estudam as matérias regulares como história, matemática e geografia. E, no contraturno, participam de oficinas que podem ser relacionadas à cultura e ao esporte. Essas oficinas são ministradas por grupos com uma longa atuação no bairro, que por essa razão se credenciaram para criar um ponto de cultura dentro das escolas da rede municipal.

Recentemente, foi aberto um edital para que os agentes culturais do município pudessem trabalhar com esses pontos, atendendo aos alunos do segundo segmento. Mais de sessenta conseguiram o apoio da prefeitura e muitos deles já estão funcionando. Os outros iniciarão suas atividades depois do carnaval, quando terá início o ano letivo em Nova Iguaçu.

Para que as ações realizadas nos pontinhos estejam afinadas com os objetivos da prefeitura, há periódicas reuniões de formação. Comandadas por Sandra Mônica,Egeu Laus e Marcus Vinícius Faustini, os encontros incentivam e cobram de seus participantes o interesse, autonomia e comprometimento.

Na última reunião, dia 18, o teatro do Sylvio Monteira estava cheio e a pauta era “Metodologia”, assunto importantíssimo quando o objetivo é manter o aluno na escola. Vale lembrar que entre as escolhas dos alunos, está assistir a aula tradicional e ir pra casa. Sem horário integral, sem oficinas. Por isso é tão importante despertar a vontade de aprender e permitir que, além de saber sobre o descobrimento do Brasil, os alunos saibam sobre o surgimento do próprio bairro.

Dentre os objetivos dos pontinhos, melhorar a escolaridade e sociabilidade dos adolescentes participantes é a mais visada. Ela combina o avanço escolar com a facilidade pela interação com outros membros da comunidade e o gosto pelo pensar.

Meta de Érica
Essa também é a maior meta de Érica Braga, uma das coordenadoras do Laboratório Cultural, também presente na reunião. Essa entidade foi contemplada e se faz presente em sete bairros, com trabalhos que vão desde reciclagem até literatura. Na verdade, a lista é bem longa: blog e fanzine, em Miguel Couto; percussão e teatro, Califórnia; Cine Celular, em Três Corações; Hip Hop em Nova Era; reciclagem, Jardim Alvorada; Literatura em Cabuçu e Turismo, ministrada por Érica Braga, em Tinguá.

O trabalho foi iniciado em janeiro, conhecendo a instituição e cumprindo as exigências da prefeitura. Aproveitando as férias, algumas oficinas já foram oferecidas para quem mora perto da escola. Esse é outro dos benefícios dos pontinhos. Destinado inicialmente aos alunos de determinada escola, ele também pode atender os adolescentes que moram perto e se interessarem.

Érica Braga, por exemplo, já trabalhou esse mês com 20 adolescentes, cota máxima por turma. E não é em vão, ela nos explica porquê, Mesmo sem as aulas, já está trabalhando com os alunos de 8 a 14 anos: “Estou aplicando uma metodologia que agrade todo mundo para que eles comentem com os outros colegas e percebam a valorização do bairro. Conversando com eles, já descobri casas onde há contação de história, lugares que todo mundo frequenta... coisas pro bairro e própria deles”.

Érica Braga cursa Turismo, mas esse não foi o único tema da oficina. Lecionando para o Bairro-Escola, percebeu que pouco se falava sobre as belezas e riquezas da Baixada Fluminense, e que ela poderia fazer a diferença. Tinguá, repleto de histórias sobre escravos e cenários naturais ricos, não poderia ser palco melhor. Além disso, a universitária considera sua participação no projeto uma realização pessoal. “Os alunos ficam surpresos em saber que turistas visitam Tinguá, que enxergam o lugar que eles moram como patrimônio histórico e cultural. E você puxa esse assunto pra história, mostrando que, no século XX, Tinguá era fonte de trabalho e renda. Percebendo a importância do local, eles começam a se achar importantes também. E perceber isso muda tudo, te faz ter uma história, uma identidade e querer fazer parte dessa história”.

Com todos os desdobramentos que o tema de Érica envolve, fica bem claro que, com os Pontinhos de Nova Iguaçu, agentes culturais são também agentes de mudança.

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