Sociedade dos irrequietos anônimos

segunda-feira, 8 de março de 2010

por Livia Pereira

Em meio à escuridão do teatro do Espaço Cultural Sylvio Monteiro, numa noite de quarta feira, enquanto a chuva cai do lado de fora e afoga o trânsito da cidade, cenas estranhas acontecem na plateia que acompanha atenta os pronunciamentos das autoridades responsáveis pelo PADEC, um plano de apoio à cultura financiado pela Secretaria Estadual de Cultura.

Nesta matéria, procuramos não citar os nomes dos que, em plano de fundo, ilustraram o evento: os membros da Sociedade dos Irrequietos Anônimos (SIA).



Conheça, através desses relatos, os sintomas mais comuns da síndrome e decida fazer, ou não, parte dessa sociedade anônima.

O primeiro irrequieto da noite tem o cognome X. Durante os primeiros segundos da fala do Secretário Municipal de Cultura, Marcus Vinicius Faustini, X erguia freneticamente sua caneta, a qual só faltava gritar por ele “Eu quero falar!!!”. Ficou o medo de que ele retirasse a qualquer momento da mochila sua caneta luminosa.

1. Um irrequieto NUNCA perde tempo. Ele quer expressar suas opinões no momento exato em que elas surgem em seus pensamentos. E-mails? Jamais! Tempo real e nada mais! Não diga a ele a data da próxima reunião. Ele estará lá!

A segunda aparição dos membros da SIA ficou por conta de J.F. que, aproveitando um intervalo mínimo de silêncio no discurso do secretário, não se segurou e, esquecendo-se de seus intermináveis bônus para envio de SMS´s, preferiu gritar em modo sussurro o nome da amiga que estava do outro lado do teatro, abanando as mãos como numa coreografia improvisada de axé.

2. Pra que a discrição quando a expressão corporal pode ser mais atraente a um olheiro? Um irrequieto sabe como chamar a atenção e nunca desiste da chance de ser descoberto por olhos atentos a seu talento em aparecer.


Um outro dramático caso ocorreu com nosso amigo N.D.Q.S. (Não direi quem sou). Sua inquietação se evidenciou na obviedade da má qualidade interrogativa. “Aquele que tá falando é o secretário de cultura?” - ele perguntou ao colega. Poucos minutos depois: “Vai demorar muito?” - _ ele continuava seu inquérito.

3. A principal característica do nosso perguntador é a qualidade de suas interrogações, numa constância perene como a grama dos campos. Essa característica pode facilitar seu convívio com pessoas de pouco entusiasmo argumentativo, já que para responder a perguntas tão empolgantes basta um olhar de intimidação.

O discurso girava em torno da seguinte sentença: “A gente acredita que a cultura é transformadora”. Faustini, então, ilustrava a cultura como um caminho. Enquanto isso, nosso 4º desassossegado B fazia da estreita passagem entre uma e outra fileira de cadeiras sua passarela de embarque e desembarque de “Arm-chair City” até “CookieShop City”.

4. Um traço marcante desse caso é a ligação mais íntima entre paladar e audição. Nosso amigo B só consegue ouvir enquanto consome seus deliciosos biscoitinhos amanteigados.

Dentre tantos membros da SIA, percebemos que um grande número de pessoas presente no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, neste mesmo dia, sofre de algum dos inúmeros sintomas da síndrome dos irrequietos. Um dos sintomas mais observados foi o intervalo das palmas na noite.

“Olá, [palmas!] gente![palmas!] Meu [palmas!] nome [palmas!] é [palmas!]... DESISTO! (muitas palmas!)”

5. Esse foi apenas um exemplo. Mera ilustração para mostrar o estado de alma dos que batiam palmas no evento. Um irrequieto que se preze sempre está atento ao princípio dos aplausos. Mas sente-se muito mais confiante quando ele mesmo incentiva o grupo, tomando a iniciativa.


Se você se reconheceu em algum desses personagens, saiba que a obra não é mera ficção e pode não ser mera coincidência.

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