por Michele Ribeiro
Todo mundo sabe quem é Daniel Guerra, um pernambucano de 45 anos que nasceu em uma família com oito irmãos e chegou ao Rio de Janeiro com oito anos de idade trazendo no sangue a veia artística dos pais, que participavam do coral da igreja na terra natal. Mas se engana quem pensa que ele se tornou um dos homens mais populares de Nova Iguaçu por causa do Pimenta do Reino, banda de forró da qual ele é o fundador, cantor e principal compositor. Sua fama começou a se espalhar pela cidade por causa de dois bares que teve na cidade na virada da década de 1980 para a de 1990.
O primeiro dele, nas imediaçöes da Prefeitura de Nova Iguaçu, se chamava Cálice. "Comecei com um botequim, mas logo ele virou um bar noturno muito bem frequentado, que vivia lotado", conta o músico, que aprendeu a gostar dos Beatles, Caetano Veloso e Milton Nascimento influenciado pelos seus numerosos irmãos, um dos quais hoje é produtor de bandas como o Cidade Negra. Daniel Guerra investiu nele depois de um longo período tocando nas noites de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. "Estava cansado de tocar para os outros e resolvi abrir meu próprio negócio."
A primeira experiência foi abortada um ano depois, quando o dono do bar botou olho gordo na sua clientela e pediu um alto preço na renovação do contrato de aluguel. Foi aí que ele partiu para o Daniel's Bar, que ao longo de sete anos iria marcar a vida social e cultural da cidade, na Praça Santos do Dumont. "Na época, Nova Iguaçu havia uma imensa carência de cultura em Nova Iguaçu, pois a prefeitura tinha vendido para uma escola o único teatro da cidade e os artistas não tinham um lugar para mostrar sua arte", lembra Daniel Guerra, que acabou de fazer uma gravação com a cantora paraibana Elba Ramalho para o próximo DVD do Pimenta do Reino.
Um dos grandes segredos atrativos do Daniel’s Bar era sua programação cultural, atraindo artistas do peso de um Grande Otello, de um Sergio Sampaio e de um Flávio Venturini. "Quase todos os artistas da Baixada passaram pelos festivais de música e teatro que promovemos lá, bem como os recitais de poesia e os lançamentos de livros", lembra Daniel Guerra, que compara a efervescência do seu bar com a de uma casa de cultura. "À noite, vendia-se cerveja como qualquer point noturno, mas as pessoas que frequentavam minha casa tinham espaço para cantar e dançar." Até os garçons eram artistas, que iam para o palco do Daniel's Bar depois de servir as pessoas.
O estilo alternativo e de vanguarda também atraiu o pessoal da política, principalmente os militantes de esquerda. "Os candidatos debatiam suas propostas no nosso espaço", conta Daniel, para quem as leis de incentivo à cultura do município, como o Fundo Municipal de Cultura Escritor Antônio Fraga, começaram a ser formuladas nas mesas do seu bar.
A fama do Daniel's Bar não apenas chegou a lugares remotos como Ipanema e Copacabana, como atravessou fronteiras. "Um amigo meu se encontrou com um amigo em plena Times Square e sem querer o assunto do meu bar, que os dois frequentavam antes de ir para Nova York", conta o artista.
Quinze anos depois de fechar o bar por causa dos mesmos problemas contratuais que colocaram um fim no Cálice, mas ainda hoje seus antigos frequentadores não apenas se lembram daquela época, como desejam que ele o reabra. "O bar me enriqueceu muito, mas eu não quero mais saber disso", diz o músico, totalmente focado no Pimenta do Reino, graças ao qual reencontrou suas origens nordestinas.
1 Comentários:
Tem Daniel Guerra nos nossos arquivos: http://jovemreporter.blogspot.com/2009/05/pimenta-no-liquidificador.html
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