por Jéssica de Oliveira
Quantas locadoras de filmes há no seu bairro? Aposto que não muitas em relação há dez anos, quando os DVDs ainda não eram tão populares como hoje. Era um superprograma de fim de tarde ir até um desses estabelecimentos e ficar horas passeando nostálgico pelos corredores repletos de filmes, comentando com os amigos o quanto gosta dessa ou daquela obra. Mas hoje isso acabou. O máximo que acontece é passear pela sessão de uma loja ou pela banca de um camelô no Calçadão de Nova Iguaçu, onde se compram quatro DVDs por dez reais.
Entretanto, apesar desse quadro de completa falência, ainda existe gente que acredita no poder das locadoras de filmes e ousa abrir uma. Rodrigo Francisco de Assis Barbara tem 25 anos e há um resolveu alugar filmes em sua casa para ajudar no orçamento mensal. “Costumava alugar filmes numa locadora sobrevivente de outro bairro e copiava quando chegava em casa”.
O jovem amante de filmes conta ter começado sua locadora clandestina de forma casual. “Eu comecei a falar para as pessoas que eu conhecia que alugava filmes piratas por dois reais, dois e cinquenta e que entregaria em casa, se quisessem”, conta.
Foi em 2008 que Rodrigo começou seu negócio. Era bem simples e informal. “As pessoas batiam no meu portão e eu lhes dava uma pasta com o nome dos filmes disponíveis. Daí eu pegava o filme que elas escolhiam na minha casa e alugava”. Isso quando a pessoa ia até a casa de Rodrigo, que fica na Estrada Dr. Mario Pinote, em Comendador Soares, porque geralmente as pessoas faziam pedidos por telefone e Rodrigo entregava com sua bicicleta por dois reais. “Às vezes o cliente está com preguiça ou não pode sair de casa porque está ocupado, então eu entrego e às vezes busco, dependendo da demora da devolução ou da solicitação do cliente”.
Poucos meses depois de ter aberto seu negócio, Rodrigo se deparou com um problema: a locadora da qual sempre alugava os filmes estava fechada, dificultando a cópia de mais filmes e a devolução de um que havia alugado. Entretanto, não demorou muito e encontrou com o dono da locadora e lhe disse que queria devolver o filme alugado, mas que não conseguia. Este lhe contou que estava fechada por falta de funcionário e Rodrigo, na época desempregado, logo se manifestou: “Fiquei muito feliz ao saber que ele precisava de alguém pra tomar conta da locadora! Eu sempre quis trabalhar numa”, revela com alegria ao lembrar.
Com o tempo, a dedicação do rapaz fez com que a locadora recuperasse os filmes pendentes e ganhasse mais movimento com promoções que ele mesmo produzia. “Foi um período ótimo. Eu adorava estar na locadora, organizando os filmes e ainda ganhava um dinheirinho”.
Entretanto, assim como tantas outras locadoras, a que Rodrigo trabalhava também faliu. “A minha chefe me disse que tinha que passar o ponto porque não estava rendendo o suficiente, apesar dos nossos esforços”, explica. A notícia entristeceu o rapaz, que havia trabalhado na locadora por pouco tempo, mas depois de tanto pensar no assunto, teve uma ideia que viria a fazer da falência da locadora a grande chance de ter a sua própria. “Eu conversei com a dona da locadora e disse que gostaria de negociar a compra ou aluguel dos filmes para abrir uma locadora na minha casa. Ela, percebendo minha vontade e empenho, resolveu me emprestar uns cem filmes e ainda me deu as prateleiras para começar o meu negócio”.
Dessa forma, Rodrigo montou sua locadora numa quitinete que a mãe costumava alugar nos fundos de seu quintal. “Quando vi minha própria locadora montada, fiquei muito feliz. Sempre sonhei em trabalhar em meio aos filmes, até mesmo como lanterninha no cinema. O cinema pra mim é indescritível”, conta o rapaz que aos 10 anos foi pela primeira vez no cinema assistir a Aladim e afirma que quando está em frente à telona, esquece da vida, dos problemas, do mundo. “Me transporto para o filme”.
O então “microempreendedor” explica que os filmes mais recentes de sua locadora ainda são piratas. “Fico preocupado com isso, mas não tenho outra solução. Mas os meus DVDs piratas são de qualidade!”, brinca, dizendo que só copia filmes de DVDs originais. “Sou contra a pirataria, porque o artista merece receber pelo seu trabalho, mas geralmente o preço por um filme original é muito alto, ainda mais lançamento”. Ele ainda conta que, apesar dos tentadores preços dos filmes piratas nas bancas de camelôs, existem pessoas que preferem alugar. “A qualidade dos meus filmes é muito boa, além de ter gente que não gosta de ficar acumulando filmes em casa”.
Rodrigo diz ter vontade de ingressar no curso de jornalismo em alguma universidade, mas se acha tímido. “Não sei se me daria bem frente às câmeras”. Entretanto, se contenta em trabalhar no cinema: “Não digo atuando ou coisa parecida – até porque eu fiz teatro e vi que não é pra mim -, mas até mesmo como pipoqueiro. Para mim, estar dentro do cinema é o mais importante”, encerra.
2 Comentários:
Que história bacana... E triste, ao mesmo tempo. :(
Gostei, parabéns pela matéria!
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