por Joaquim Tavares
Os aparelhos odontológicos, comumente chamados apenas de “aparelhos”, são razoavelmente novos no Brasil. Não se tem uma data muito específica, mas foi por volta da década de 60 do século passado que eles começaram a aparecer na boca da boa classe média dos grandes centros urbanos.
Não foi lá um grande começo! O tratamento tinha um alto custo e, dessa forma, poucos usufruíam desse bem. Outro aspecto marcante era o tamanho de toda a parafernália, que muitas vezes pulava para fora da boca. Porém, com uma rápida expansão, era necessária uma modernização no tratamento, e assim surge o aparelho como se conhece nos dias de hoje.
Os “aparelhados” possuem uma dura rotina, doutrinada do começo ao fim. É quase como um estilo de vida, mas não é daqueles muito prazerosos. Existe uma infinidade de “NÃO PODE!” para aqueles que optam por esse caminho, que muitas vezes parece sem fim. “ Tenho 20 anos e uso aparelho desde os 14. Acho que não vou tirar nunca mais.” – Não é uma raridade casos assim como o de Mônica Avelar, que começou “nessa vida” graças à insistência da mãe. “Por mim, continuava como estava. Minha mãe que me enchia o saco, agora nem sei quando vou tirar isso.” Mônica termina seu discurso revoltado com o pensamento que passa na cabeça de cada um daqueles que faz uso dessa prática: “Meu dentista só pode estar me enrolando!”
Os aparelhos são considerados, por alguns, atrativos, que embelezam e dão certo encanto a quem usa. “Acho charmoso quem tem, se bem que não fica bem em todo mundo.” Isso é o que acha Marcela da Silva Freitas, de 15 anos, que não usa aparelho, mas garante. “Só quero um motivo para poder usar!”.
Curiosidades surgem nesse meio, como no caso de Caroline Moreira da Cunha, de 18 anos, três deles vividos com o aparelho. “Minha mãe usou junto comigo. Ela pôs um ano depois, mais ou menos, e tirou na mesma época.” Referente aos costumes e tudo mais, Carol diz que a mãe era muito mais fresca que ela. “Eu sempre comia de tudo, mas a minha mãe não. Ela tinha que tomar sopa depois que regulava o aparelho, reclamava o tempo inteiro de dor.” Infelizmente, Carol, hoje sem aparelho, sabe que sua jornada não acabou. “Vou ter que voltar a usar!”
ClãUm aspecto positivo do aparelho é a união que ele faz surgir entre as pessoas que os usam. Assim, é muito fácil criar qualquer tipo de afinidade com alguém que também usa aparelho (é como um tipo de companheiro de guerra). A pessoa vê alguém na mesma situação difícil que a dela e pensa. “Ele sabe o que eu passo, ele me entende...”. Nascem assim fortes laços de amizade, gerando uma espécie de “Clã dos aparelhados” – todo mundo que tem aparelho pode puxar conversa com um desconhecido, desde que esse também tenha aparelho. Nunca faltará assunto! – “Há quanto tempo você usa? Doeu muito no início? Sabe quando vai tirar?”
Quem usa aparelho acaba esquecendo o seu lado positivo e seu real valor, que é de deixar seu sorriso impecável. O aparelho assume uma terrível forma de castigo defendido de maneira subliminar pelas mães quando dizem: “Eu falei para você escovar os dentes direito.” – Como se escovar os dentes também fosse deixá-los menos tortos.
Usar aparelho é uma árdua missão que traz como recompensa um sorriso mais agradável e um aprendizado que você nunca esquecerá. Você passa a dar um valor sem tamanho à pipoca, quase a endeusando. Qualquer coisa pequena, moída ou desfiada, te causará algum receio. Levarás consigo eternamente um kit de primeiros socorros dentários (escova, creme e fio dental, espelho, etc.) Quem não usa aparelho deve se sentir eternamente feliz, porque o aparelho sai dos seus dentes, mas ele não sai de você. E, no fim das contas, chamar quem usa aparelho odontológico de “usuário” não seria uma gafe tão grande, já que o aparelho não deixa de ser uma droga!
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