por Larissa Leotério
Para a maioria da população brasileira, cristã, o candomblé é uma religião muito cheia de histórias, de pessoas que procuram fazer mal às outras. As galinhas pretas de encruzilhada, junto à farofa esquisita, num daqueles enormes recipientes de barro são sempre muito presentes nos longos discursos contra o candomblé.
Acontece que o culto aos orixás é muito fechado. Alguns rituais são muito “secretos”. E que não trazem boas energias aos que olham. E sobre os quais é possível ver, recomenda-se não contar. Essa política de cada coisa ao seu tempo, no local e momento devido acaba por mistificar a religião.
Ainda que essa não seja a intenção, é pouco provável que os não-candomblecistas saibam sobre a religião e que não tem só galinha preta na encruzilhada. Para reduzir os inúmeros mistérios é que alguns praticantes do candomblé têm lançado livros e as tão criticadas apostilas.
As apostilas para divulgar essa cultura são tão criticadas e causam tantos problemas exatamente pela própria cultura: quem quer saber como funciona o candomblé, precisa frequentar as casas, os axés. Precisam ser iniciados.
Iniciação
Explicando um pouco, a iniciação no candomblé é a feitura. Esta é feita com todos os iniciantes; os que entram ou não em transe. Os que entram são os futuros iyawôs; os que não entram serão as ekedjis (no caso das mulheres), ou ogãs(no caso dos homens). Para a feitura é exigido um recolhimento, sem contato com o mundo exterior ao ilê, sem contato com nada que perturbe o pensamento e o desenvolvimento da energia. É durante esse isolamento que o iniciado conhece a hierarquia da casa, os orins (cantigas) e as danças para os orixás. São os ensinamentos básicos, mas que não param por aí; ainda tem as comidas, a disciplina, a cultura.
Depois deste tempo, que pode levar de 7 a 30 dias, é necessário um resguardo. Mais um tempo para guardar e desenvolver a energia do ori (cabeça) do iniciado. Este segundo momento pode durar de uma semana a três meses sem cigarros, bebidas alcoólicas e relações sexuais. As duas primeiras restrições costumam durar cerca de um ano, contado a partir do dia da feitura até a festa de um ano do omorixá (filho do orixá).
Todo o aprendizado de tão pouco tempo exige muita disciplina. Começam, então, os questionamentos a essa nova forma de “divulgação” da religião. Uma das maiores marcas do candomblé é a oralidade. Tudo que é necessário saber tem sido passado oralmente de zelador para os filhos de sua casa, de seu axé. Desde a época em que os candomblecistas em sua maioria não sabiam escrever, não tinham essa necessidade. E agora, esses ensinamentos sagrados são obtidos comercialmente, sem esforço.
E então? É melhor desmistificar a religião, fazendo com que as pessoas tenham acesso e menos medo ou é melhor conservar a tradição, as culturas e a oralidade?
O segredo do quartinho
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Marcadores: Baixada, Larissa Leotério
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1 Comentários:
Boa pergunta...
Mas uma pergunta maior se ergue: será que as pessoas estaão/estarão de "coração aberto" para aprender e aceitar uma religião (cultura, de modo geral) da qual se ultrapassa parâmetros dos quais estamos acostumados?
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