por Wanderson Duke Ramalho
Raramente vejo um filme por conta da sua história ou pelo release na contracapa. O antigo jargão “não se julga o livro pela capa” também funciona no cinema.
Soube do lançamento de “Bright Star”/ Brilho de uma Paixão por um amigo que achou que a temática me agradaria. Ele não sabia que o poeta britânico John Keats é um dos meus favoritos e foi uma das primeiras obras poéticas que tive contato – graças à caridade de outra grande amiga.
Antes de comentar sobre ele, tenho que confessar uma coisa: Sim, eu admito que baixei o filme em um site muito famoso pra esse tipo de download. Quem nunca fez isso, nem uma vez sequer, pode atirar a primeira enciclopédia que estiver à disposição.
Este filme estava sendo cotado pra o Oscar, mas acabou sendo esquecido. Mesmo assim conseguiu uma indicação para melhor figurino. Abbie Cornish, a atriz principal, é uma linda australiana que esteve em 'Stop Loss', 'A Idade de Ouro', 'Candy', 'Um Bom Ano'.
Não sou admirador da diretora Jane Campion, que foi descoberta por Cannes ainda quando produzia seus curtas-metragens. De sua filmografia , só assisti ao belíssimo 'O Piano'. Uma das razões pela qual julguei, inicialmente, que também acertaria com 'Bright Star'. O único diretor inglês que aprecio a forma com que constroi romances de época com sensibilidade e um cuidado maior é James Ivory. Ela entra em seara juntamente do diretor. No filme, tudo parece mal enquadrado, os ambientes inverossímeis, as roupas que demonstram terem sido feitas para o projeto acabando com qualquer possibilidade do impacto de que uma história de amor intensa possa transmitir ao espectador. Ainda mais de um poeta.
John Keats (1795 -1821) é considerado o último e o maior dos poetas românticos britânicos. De família endinheirada, estudou para ser farmacêutico, mas se entusiasmou pela literatura. Embora nunca popular ou compreendido pela crítica, hoje é considerado dos grandes.
No ano em que escreveu 'Endymion', conheceu Fanny Brawne, a grande paixão de sua vida. Só se separou dela em 1820 quando foi para Itália para morrer tuberculoso. É justamente a história de sua grande paixão de três anos que o filme descreve, o que é muito arriscado: como transpor a poesia para a tela sem cair no ridículo, ainda mais um tuberculoso?
O ator que interpreta Keats é o mesmo de 'Perfume': magro e pálido, tem cara de doente mesmo e nem sempre consegue convencer durante as cenas. Engraçado, acho que o filme nunca é parte integrante da ação nos sentimentos como um intruso naquele mundo, como se carregássemos uma câmera digital incongruente com que os personagens sentem e agem (mesmo tentando transpor tudo na visão de Fanny).
Movimenta demais a câmera, dá closes em excesso, ou seja, narra sem estilo. Há outro problema: a boa poesia é intraduzível, não funciona ainda mais mal legendada.
O roteiro se fixa no casal e seu romance casto e complicado, no amigo e rival de Keats, Charles Brown (Paul Schneider) e a mãe viúva da heroína (Kerry Fox).
O casal não pode se casar por causa da pobreza do rapaz, então a atração sexual é sublimada em poemas e cartas. Claro que existe público pra essa produção, mas ela não satisfaz quem conhece a breve história de Keats. Ele merecia mais.
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