Pernaoca da gema

segunda-feira, 26 de julho de 2010

por Breno Marques

Subsecretário de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu, compositor e vocalista da banda de forró Pimenta do Reino, o pernambucano Daniel Guerra conheceu a política no próprio ato de nascer, há 44 anos. "É que meu pai era do Partido Comunista e minha mãe, que estava grávida de mim, não resistiu a uma bomba que jogaram lá em casa", conta ele, que por pouco não morreu no parto.

Sete anos depois, a mesma política obrigou o pai a fugir para o Rio de Janeiro. “Meu pai era um grande comerciante lá na nossa cidade, mas teve que deixar tudo para trás por causa dos militares, que não paravam de caçá-lo", conta Daniel Guerra, que herdou do pai o desejo de fazer do Brasil um país melhor. "Viemos no ano de 1969, sem absolutamente nada. Chegamos num pau de arara.”

Começaram a ganhar a vida vendendo chapéus nas feiras do Rio e com o lucro alugaram uma casinha no bairro da Prata, em Belford Roxo, onde moraram até se mudarem para Mesquita. "É a cidade em que vivemos até hoje, só que com idades e situações diferentes. Eu com 44 anos e meu pai com quase 90, e não passamos mais necessidades”, conta Daniel, que foi o único filho da família a se mudar para o Rio de Janeiro. “Os outros ficaram por baixo das pernas da mãe”, conta Daniel Guerra, com um sorriso debochado no rosto. Com sua mãe e alguns irmãos já falecidos, Daniel conta que sua família hoje é seus outros irmãos, seu pai, sua esposa e suas duas filhas, resultado de outros dois casamentos anteriores.

Daniel Guerra começou a tocar violão quando tinha quinze anos, quando a tradição musical de sua família começou a correr suas veias. “Minha mãe era ligada à igreja, onde regia um coral e tocava arcodeon. Todos os meus irmãos também são músicos”. Para descolar uns trocados, o hoje vocalista do Pimenta do Reino começou a tocar nas noites do Rio até conhecer a mulher que lhe daria suas duas filhas. “Eu tocava MPB em vários barzinhos”, lembra.

Point

Sentindo-se explorado pelos donos dos bares, Daniel juntou dinheiro e abriu seu próprio negócio, que se tornou um dos principais points da juventude da Baixada. “Ganhei bastante dinheiro", confessa ele, que no entanto não demorou a trocar o bar por uma livraria. "Enjoei”, conta. Mas o sempre inquieto músico aproveitou o final de um casamento de 15 anos para se livrar da livraria também, apesar do seu amor pela literatura.

A popularidade conquistada na noite iguaçuana levou um amigo a convidá-lo a entrar para a política, mais particularmente para o Partido dos Trabalhadores. “Meu amigo queria que me candidatasse e tentei uma vaga na Câmara dos Vereadores nas eleições de 2000", lembra ele, que se tornou segundo suplente. Mas apesar da felicidade do pai com sua entrada na política, não voltou a se candidatar. “Meu pai é um guerreiro romântico, que sempre sonhou com pais melhor. Acho que na política herdei dele a ideologia, carisma, lealdade e principalmente a vontade de vencer na vida”.

Quando trocou a política pela carreira artística, Daniel Guerra formou a banda Pimenta do Reino, que em oito anos na estrada já gravou três CDs e um DVD. "Já dividimos palco com artistas muito importantes, como Zé Ramalho, Falamansa, Elba Ramalho e muitos outros", orgulha-se, que no último reveillon dividiu o palco armado pela Rede Globo em Nova Iguaçu com a popularíssima Calcinha Preta. "Meu intuito é resgatar as origens do povo, como vim de lá, me dedico muito a esse trabalho, mas apenas eu e o sanfoneiro somos nordestinos. O resto do grupo é apenas admirador”.

Luva de pelica

A principal influência da Pimenta do Reino é Zé Ramalho, que é o padrinho da banda. Mas eles também receberam influências de Milton Nascimento, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Caetano Veloso. "Muitos artistas consagrados nos servem como exemplo”. Daniel Guerra diz que passou uma situação no palco que não esquece. "Uma vez teve um show do Geraldo Azevedo em Mesquita. O Pimenta do Reino abriu o show do Geraldo. Pra gente não tinha nem camarim. Era um show que envolvia muito dinheiro. Não tínhamos nem espaço pra ficar. O Geraldo tinha as necessidades básicas no camarim. E quando começou o show do Geraldo, ele me viu na platéia e me chamou pra subir ao palco e cantar com ele. Foi quando o prefeito viu o valor que a gente tinha. Foi como um tapa de luva de pelica nele”, conta, chateado com a atitude do prefeito da cidade na época.

Daniel Guerra encontrou no emprego na SEMCTUR o equilíbrio entre a música e a política. “Adoro trabalhar na Cultura. Acho que une os dois meios que mais gosto. Os meios de novas ideias e arte. Dentro da política, não me vejo em outro ramo”. Daniel é organizador dos carnavais de Nova Iguaçu desde que o atual candidato a senador pelo PT assumiu a Prefeitura da cidade. “Organizei uma, duas, várias vezes. Se hoje Nova Iguaçu tem bailes de rua no carnaval é porque eu me empenhei muito pra colocar isso em prática”, orgulha-se. O trabalho à frente do carnaval de Nova Iguaçu rendeu tantos frutos que este ano viajou para a Europa para vender o carnaval da Beija-flor de Nilópolis. “Fui vender o carnaval carnaval de 2012. É engraçado a reação deles, pois a postura política dos países europeus é muito fechada. E tudo que requer verba, lá é muita burocracia. Mas vai dar tudo certo”, diz Daniel Guerra, confiante na venda.

Daniel considera-se quase carioca. “Me considero um “pernaoca”, uma mistura de pernambucano com carioca. Toda a história da minha vida foi escrita aqui. Aprendi muito com a vida, assim como muitos brasileiros nordestinos e todos os cantos que passam necessidades. Termina dizendo. ”Daniel é... Criativo, Daniel é... Lerdo às vezes, Daniel é... Divertido, Daniel é... Sonso, Daniel é... Música, Daniel é... Honesto e correto”.

1 Comentários:

Anônimo disse...

Adorei essa matéria.Mesmo naum te conhecendo acho q vc tem muito sucesso.E essa matéria estava muito boa e as palavras foram bem selecionadas!!!Naum foi uma matéria idiota sem assunto ou com palavras muito repetitivas!!!boa sorte!!!Te desejo muito AXÉ!!!Roniery Mota de Boa Vista RR

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