por Fernanda Bastos da Silva
Nova Iguaçu, a cidade que nasceu às margens do rio e que renasceu abraçando a ferrovia, está entrando em sua terceira geração: a da rodovia”. Essa é a afirmação de Edson Borges Vicente, 26 anos, geógrafo recém-formado e morador do bairro Cabuçu. Ele dedicou os cinco anos e meio em que esteve na graduação na Universidade do Estadodo Rio de Janeiro – UERJ – a estudar sua cidade natal, especialmente seu bairro. Edson, que gosta de ser chamado de geoeducador, já apresentou seu trabalho para a comunidade no Simpósio de Educação de Cabuçu de 2008 e disponibilizou na internet parte do artigo que escreveu, chamado ‘Nova Iguaçu, Cidade mãe: do nascimento de Iguassú à gestação de Iguaçu Nova em Uma abordagem geográfica’.
culturani– O que incentivou o senhor a estudar a cidade de Nova
Iguaçu e, principalmente o bairro Cabuçu, do qual quase nada é falado?
Edson Borges– Fui a primeira pessoa do meu bairro a ingressar em uma universidade pública e acho um dever meu aplicar o conhecimento que adquiro em meu lugar de vida, que está passando por intensas transformações que interferem na dinâmica de toda a Baixada. Além de ser um prazer, é mais fácil, pois posso vê-lo todo dia.
culturani – Explique um pouco esse seu ingresso na universidade. Foi a partir disso que você começou a estudar a cidade?
Edson Borges – Fui aluno do Pré-Vestibular para Negros e Carentes de Cabuçu – o PVNC. Antes eu estudava na escola técnica Visconde de Mauá da Faetec de Marechal Hermes. Estudava Eletrotécnica e queria ser engenheiro eletrônico. Só passei a conhecer o meu bairro e me interessar pelas ciências humanas – geografia e história – quando
conheci o PVNC. Hoje sou professor e coordenador e ensino um pouco do que aprendi aos jovens do meu bairro, inclusive o que aprendi sobre nossa cidade.
A cidade está indo para onde as rodovias irão: para a região sudoeste nas URGs de Cabuçu e Km 32, onde gigantescos empreendimentos imobiliários estão sendo realizados, apostando em rodovias que ainda não existem, mas já estão no Plano Diretor da cidade e nos planos do Governo do Estado como o Arco Rodoviário.
culturani– Você afirma que Nova Iguaçu está entrando em sua terceira fase e que esse é o seu objeto de estudo. Quais então seriam as outras duas e como você estudou sobre elas?
Edson Borges- Os pesquisadores da Baixada sempre destacam as duas fases de desenvolvimento que a cidade de Nova Iguaçu passou: a da antiga Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Iguassú, que passou a ser chamada Vila de Iguassú, nas margens do Rio Iguassú, e a da Ferrovia, quando o centro foi transferido para o Arraial de Maxambomba e a recém-nascida cidade passou a ser chamada de Nova Iguaçu. Existem trabalhos significativos do IPAHB (Instituto de Pesquisas e Analises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada), além da tese de doutorado do professor Manoel Ricardo Simões, conhecido como Breguelé.
culturani– Essas pesquisas sobre a cidade falam alguma coisa sobre essa tal terceira geração de Nova Iguaçu e, se não falam, o que o levou a acreditar nisso?
Edson Borges– Professor Breguelé acredita que a terceira fase é a da indústria. Nova Iguaçu já foi engenho e a cidade da laranja e hoje é a cidade dos cosméticos. Mas não podemos comparar o tipo de doce que comemos com o tipo de fogão onde se faz o doce. Falamos da cidade às margens do rio e às margens da ferrovia. O diferencial do meu trabalho é acreditar que uma nova geração estaria se desenvolvendo, como um “embrião” de uma ‘Nova Nova Iguaçu’, ou melhor, uma ‘Iguaçu Nova’. Eu falo da cidade indo para onde as rodovias irão: para a região sudoeste nas URGs de Cabuçu e Km 32, onde gigantescos empreendimentos imobiliários estão sendo realizados, apostando em rodovias que ainda não existem, mas já estão no Plano Diretor da cidade e nos planos do Governo do Estado como o Arco Rodoviário.
culturani– Então você acredita que o centro da cidade mudaria de novo?
Edson Borges- Acredito que estamos passando por um processo de mudanças, mas é cedo para fazer afirmações dessa natureza. O que acho certo é que Nova Iguaçu não tem mais para onde crescer. Ao norte para na Reserva de Tinguá, a leste e a oeste a cidade esbarra nas emancipações e ao sul, o centro já está estrangulado pelo crescimento desordenado. Já a sudoeste existem imensas terras vazias. Os novos empreendimentos estão trazendo gente de outros municípios e pode vir a se transformar em um novo sub-centro, com dinâmica própria, mas as forças políticas continuam no centro.
Acredito que estamos passando por um processo de mudanças, mas é cedo para fazer afirmações dessa natureza. O que acho certo é que Nova Iguaçu não tem mais para onde crescer.
culturani– Sabemos que foi recentemente construído um parque aquático em Cabuçu e hoje estão fazendo um imenso condomínio ao lado do parque. Esses empreendimentos são os responsáveis por todas essas transformações ou existem outras coisas a destacar sobre essa área?
Edson Borges– Tanto o parque aquático Paradiso Clube quanto o Condomínio fazem parte de um megaprojeto chamado Cidade Paradiso. Esse projeto, inicialmente chamado de ‘Iguassú Nova’, está sendo construído em uma fazenda de Eucaliptos com dimensões de uma cidade para cerca de 150 mil habitantes. Eu assisti desde a derrubada do primeiro eucalipto até a atual finalização do primeiro condomínio – o Cidade Paradiso, com umas 1800 casas. Mas existem outros projetos habitacionais, além de um parque industrial. Essa não é a única fazenda gigantesca dessa região. Temos outra fazenda Cabuçu ao pé da Serra e a fazenda Marapicú, entre outras, todas com importância histórica significativa e que são alvo de especulação fundiária hoje.
culturani– Conte-nos sobre as tais rodovias que ainda não existem, mas que serão construídas.
Edson Borges– A região sudoeste de Nova Iguaçu fica entre três rodovias muito importantes: a Rio São Paulo - Dutra -, a antiga Rio - Santos e a Avenida Brasil. Além disso, está a distâncias parecidas da Capital do Estado, do pólo Gás-Quimico e Petroquímico de Duque de Caxias, da cidade portuária de Itaguaí e da industrial Volta Redonda. É uma região estratégica. Perto de lá passará o já citado Arco Rodoviário, e ainda será margeada pela Avenida Santa Cruz, onde passavam os trilhos da Linha Velha (ligando a Dutra na altura de Austin à Rio - Santos) e a Estrada de Mato Grosso, que contorna a fazenda até a Lagoinha. Por dentro dela passará a Avenida do Oleoduto. Isso sem contar com extensão da Via Light e da construção de uma avenida às margens do Rio Cabuçu. Hoje a RJ 109, a Avenida Abílio Augusto Távora, conhecida como Estrada de Madureira, ainda é a principal. Para a outra Fazenda Cabuçu, ainda temos a antiga estrada Cabuçu-Queimados, que também dá na Dutra.
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Marcadores: Bairro-Escola, Fernanda Bastos
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