por Josy Antunes
No início de 2008, quando ainda era uma normalista de 17 anos, Nova Iguaçu foi tomada por outdoors de uma tal “Escola Livre de Cinema”. No caminho para o Instituto de Educação Rangel Pestana, no centro da cidade, de dentro do ônibus repleto de outros estudantes de instituições públicas, me inclinei quando avistei um desses imensos convites para o ingresso na ELC. Na pequena sala de leitura da escola, amigas de saias de pregas e lenço no pescoço combinavam o comparecimento ao dia da seleção do curso: que, apesar de inaugurado em 2006, para nós emanava o cheiro de novidade.
Foi na minha primeira visita à escola de muros vermelhos, em Miguel Couto – no dia da seleção, após ter passado algum tempo, com cara de boba, admirando a estrutura externa construída com bicicletas – que ouvi o nome “Marcus Vinícius Faustini”: cineasta, diretor teatral e diretor da Escola de Cinema. Na grande reunião, foi-nos garantido que, mesmo aqueles que não fossem selecionados para o curso, teriam os contatos agregados à bolsa de informações do local. Ou seja: teríamos acesso a novidades de cursos e oficinas ligados ao audiovisual.
Dias depois, fui convocada para as oficinas dos “Coletores de imagens”, que seriam realizadas aos sábados, no SESC de Nova Iguaçu, juntando jovens e idosos na produção de um documentário sobre “O ano em que eu nasci”. Foi lá que, de fato, conheci Faustini, que ministrava as oficinas ao lado de nomes como Valquíria Ribeiro, Raul Fernando e Gregório Mariz. Quando ouvi a exclamação “Para de fazer poesia, porra”, direcionada a mim, vinda daquele atípico “professor” de modos estranhos, que sentava com os pés sobre a cadeira, alisava a barba e fazia citações confusas, não imaginava que estava perante o primeiro dos “Faustinis” que conhecia.
De lá pra cá, passados quase dois anos, outros me foram sendo revelados: o menino que cresceu em Santa Cruz e buscava abraçar um mundo interligado por diárias viagens de trem; o fundador do “Reperiferia”, fruto do desejo de descentralizar o fomento da cultura no Rio de Janeiro, dando origem à Escolas Livres de Teatro, de Cinema e de Música Eletrônica; o contestador, capaz de desolar uma turma de alunos – a qual me incluo –, de forma a ampliar coletivamente a busca pela melhor produção; e, essencialmente, o homem que abriu os olhos de centenas da jovens para um território até então despercebido. Coincidentemente, o secretário de cultura e turismo de Nova Iguaçu Marcus Vinícius Faustini “surgiu” quando passei a fazer parte da Escola Agência de Comunicação, no início do presente ano.
Até hoje, 09 de dezembro de 2009, mesmo com o contato distante, conheci uma imensidão de “Faustinis” - como descrito em seu braço esquerdo: “Um mar de possibilidades”. O mais recente deles, conheci na “caixa de entrada” de meu e-mail. O título “Livro "Guia Afetivo da Periferia"”, trazia em anexo a filipeta vermelha, convidando para o evento que acontece hoje. Confesso ter sentido uma mistura de emoção e orgulho, garantindo, de súbito, a minha presença no CCBB, às 18h30, acompanhada de parte da equipe do Cultura NI. O comparecimento de todos que em algum momento passaram por esse turbilhão em forma de gente é obrigatório.
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