por Tuany Rocha
Crítica Último Retrato
E prossegue o III Iguacine, uma festa da consagração à arte com inúmeros trabalhos surpreendentes. Um belo exemplo foi o curta exibido na tarde desse último sábado, “Último Retrato”, do escritor, artista, professor e diretor Abelardo de Carvalho.
O filme fala da morte de uma forma inovadora, onde em apenas sete minutos 12 crianças mortas são retratadas pela visão artística do fotógrafo Juca Pereira no inicio do século XX. Após a apresentação de seu filme nesse 3º dia de Iguacine, Abelardo nos falou um pouquinho da sua obra.
O autor relembra o inicio dessa jornada. “Aos 15 anos, fui procurado por uma poetisa de 80 anos, que morava em minha região. Ela me pediu para guardar um retrato de uma criança morta”, conta o autor, que explica que o pedido se deu pelo medo que a senhora tinha de que a fotografia se perdesse após a sua morte e por ela, naquela epóca, já compreender seu amor pela fotografia. “Guardei com carinho. Por muito tempo, ela esteve ali, comigo, em uma mesinha perto de minha máquina de escrever. Eu não via uma criança morta, eu via uma coisa bonita, um cenário legal, flores, rendas”.
Tempos depois, fazendo uma pesquisa sobre o vilarejo mineiro Porto Real de São Francisco, Aberlardo descobriu outras fotos semelhantes à que havia ganhado e, também, que todas elas pertenciam a um mesmo fotografo: Juca Pereira. “O que percebi de mais interessante foi o traço que ele mantinha, me passava uma ideia de inconsciente coletivo”, conta Abelardo.
O passo seguinte foi catalogar as fotos, emoldurá-las e promover uma exposição na PUC, onde ele lecionava artes cênicas. “Metade das pessoas ficavam fascinadas com aquele universo, e outras reagiam rapidamente e saíam”, relata o autor da exposição.
A ideia inicial de Abelardo era escrever um livro sobre a morte, mas percebeu que a obra seria sim um filme: “Foram oito anos de pesquisa dessa temática”, diz ele. “Tive muito cuidado na pesquisa, procurei detalhar o método. Antigamente, para se fotografar, era necessário ficar parado por várias horas. Talvez, então, seja por isso a qualidade e a facilidade na fotografia de pessoas mortas”, relembra.
O diretor também fala do cuidado de não precisar relacionar o filme a questões do campo da mística, mas sim ao campo artístico. Perguntado a respeito de uma característica do filme que é um monólogo narrado por Joe Basílio utilizando uma linguagem incomum, o esperanto, ele diz: “É a própria morte falando com o fotógrafo. Não se fala de morte no filme, mas da obsessão do artista em fotografar a morte”.
O filme traz ao público uma série de sensações que a cada momento estimula a pensar sobre a morte não como algo triste e sim como uma maneira de retratar a arte.
1 Comentários:
Olá! não encontro a biografia do Mestre Abelardo.
podem me ajudar?
luardoconselheiro@hotmail.com
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