por Carine Caitano
Chego ao Espaço Cultural Sylvio Monteiro e percebo uma movimentação bem diferente da usual. Sempre com normalistas e jovens pesquisando na biblioteca recém-inaugurada, hoje o espaço está lotado de crianças. Elas são alunas das escolas municipais de Nova Iguaçu. Apesar da abertura oficial do III Iguacine ser apenas à noite, desde as 9 horas essas e outras crianças passaram pelo local, assistindo à contação de história e curtas-metragens produzidos pela Escola Livre de Cinema. O grupo Tapetes Contadores ficou responsável pela primeira parte e a os filmes exibidos, a partir dos contos de Câmara Cascudo, são produção dos próprios alunos.
Aparentemente as mais velhas do local, quatro meninas conversam animadamente em um canto. De várias escolas do município, participam do horário integral com o pontinho “Jornal Escolar”. Depois de falar com a oficineira Tayna Vianna, professora do primeiro segmento e graduanda em história, vou até aquelas alunas. Elize Soares tem 16 anos e diz adorar cinema e filmes teen, como Crepúsculo. Pergunto se ela gostou de assistir aos curtas, mesmo sem os vampiros e romances que está acostumada, e ela é bem sincera: “Gostei, sim. Adoro cinema, tenho até vontade de fazer. Foi bem diferente do que eu tô acostumada, mas ainda prefiro o Edward(personagem principal dos filmes da saga Crepúsculo)”. Viviane dos Santos, de 13 anos, descreveu o dia como criativo e maravilhoso. Concordando com a amiga, Rosane Keveliin diz que isso ajuda até nas notas dela: “Quando tem passeio e coisa interessante, a gente tem mais vontade de ir pra escola, de estudar, de aprender”.
Deixar uma adolescente com vontade de aprender, acredite, não é tarefa tão fácil assim. Vou ao encontro do grupo Tapetes Contadores, para conhecer um pouco de sua técnica de contação de história. Mas, surpreendentemente, encontro só uma pessoa no local. Sentada no chão como se há muito estivesse acostumada com aquele espaço, está uma mulher de saia longa e leve, dobrando metros de tecido colorido. Apresento-me e ela é simpática, diz que pode conceder a entrevista naquele momento. Quando sentamos, porém, entendo imediatamente como apenas uma pessoa conseguiu encantar os mais de 250 alunos que assistiram à história O Espelho Mágico hoje: com rosto simples e olhos puxados, a contadora tem um tom de voz calmo e tranquilo, abusando de um sotaque encantador. Largo meu manual imaginário de boa jornalista e, mesmo sem perguntar-lhe o nome, começo a disparar perguntas àquela estranha, tentando desvendar sua voz e sua história.
Tapetes Contadores
O grupo Tapetes Contadores já existe há 12 anos e teve um início curioso: “Nós nos conhecemos na faculdade. Todos somos atores formados pela UNIRIO e começamos a fazer teatro até conhecermos esse trabalho através de um francês, o Tarak Hamman. Ele foi fazer um trabalho na UNIRIO e mostrou essa técnica pra gente. Foi minha primeira vez contando histórias para criança e da lá pra cá contamos e mesclamos histórias de autores conhecidos como anônimos e folclore”.
O material que eles usam – lindos tapetes bordados com tecidos e cores mil – tem origem tão variada quanto as histórias. Alguns deles Tarak herdou da mãe. Essa é outra curiosidade do grupo: a mãe de Tarak começou a trabalhar em uma biblioteca na França e, para ilustrar as histórias, costurava em longos tecidos. Tarak começou a ajudar a mãe e depois se apossou da técnica, viajando para divulgá-la. Outros dos tapetes foram feitos pelo coordenador do projeto, Carlos Eduardo, que aprendeu a bordar para poder desenvolver as próprias histórias. Outros bordados, como os usados hoje em “Espelho Mágico”, foram feitos por um grupo de artesãs peruanas.
Peru! É de lá que veio nossa contadora de história. Nascida no Peru, ela se revesa entre o Brasil e sua terra natal há quinze anos. Inclusive, nas suas viagens, as histórias são contadas em espanhol. Aqui no Brasil, onde são os pioneiros da técnica, já deram oficinas para outros grupos. As oficinas não são longas, apenas visam mostrar a técnica, já que o modo de contar história é bem particular: “Na verdade, contação de história é prática mesmo. Cada contador tem que procurar sua própria história, ler e buscar o que agrada. No grupo, por exemplo, somos sete e temos nossas próprias particularidades e histórias”.
Dessa experiência particular, ela também tem muito que falar, afinal, contou a mesma história para oito grupos diferentes. “Tô muito feliz com a reação das crianças porque tinha crianças mais velhas, adolescentes mesmo que nem sempre é fácil de dialogar. O “Espelho Mágico” é próprio pra criança de sete, oito anos. Mas ela fala de algo que temos em comum, o sonho”. Talvez pelo tema, ela é uma das histórias preferidas da contadora.
Feliz com a experiência de trabalhar com crianças de Nova Iguaçu, como já tinha feito no SESC do município, a atriz pretende participar das outras atividades do IGUACINE, desta vez como público. Já no final da entrevista, pergunto o nome dela, que me soa tão encantador como a nossa conversa: Rosana Reategui.
Para saber mais do grupo, acesse o site deles: http://www.tapetescontadores.com.br/
1 Comentários:
Adoro contação de histórias e pratico bastante na escola onde trabalho. Os contos e fábulas fazem as crianças irem pra um universo imaginario que elas não estão nem de perto acostumadas, ja que sempre estão cercada pelas correrias e obrigações do mundo doa adultos. Ainda não conhecia essa técnica e, além de muito bonita, com certeza é uma novidade e tanto pra sala de aula.
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