Cheiro imperial

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

por Raphael Teixeira

Quem pretende tomar uma boa cerveja e ainda por cima ter ao lado vinis e um enorme sebo, num ambiente aconchegante e com cheiro do período imperial, as opções com certezas não são muitas. Mas a exceção à regra existe. O Al-Farabi, que fica na Rua do Rosário e ocupa um casarão centenário, bem pertinho do Paço, na Praça XV, oferece um cardápio para todos os sentidos. Cervejas nacionais e internacionais e preços que variam entre 4 e R$100 estimulam o paladar. Já para aguçar a visão, quadros expostos por todo o salão dão toque especial ao ambiente. Tudo ao som de bossas-nada-novas.

Lá, é possível trocar ideias com os atendentes sobre cervejas super caras e dicas de como se beber melhor. Mais comum em vinacotecas, explicam com o que beber cada tipo de cerveja. Nos momentos mais tranquilos, vale a pena folhear um livro e distrair. O espaço também oferece refeições de altíssimo nível de segunda a sábado e happy-hour de terça a sábado.

Guia da universalidade

por Raphael Teixeira
Na última semana, enquanto ouvia a reapresentação do programa da Mpb fm em que a entrevistada era a escritora e idealizadora do projeto Tramas Urbanas, Heloísa Buarque de Hollanda, lembrei que não fazia muitas semanas havia lido um livro que estava martelando minha cabeça.

Era o livro do cineasta, ator, secretário de Cultura de Nova Iguaçu e agora escritor Marcus Vinicius Faustini. Faustini, com a história que, essa sim, poderia ser a de qualquer um de nós, preenche, com o seu "Guia Afetivo da Periferia" (Tramas Urbanas), uma lacuna existente, mas que até agora estava sem um acabamento, talvez ainda no tijolo.

Muitos beberam de fonte parecida e tentaram identificar o verdadeiro brasileiro. Sérgio Buarque de Hollanda, com seu "Raízes do Brasil", fez um raio x da identidade brasileira. O filho, Chico, nas suas músicas, sempre buscou dar a voz que os excluídos nao tinham, tratando-os como personagens principais em seus versos. Roberto Da Matta cavucou os meandros da malandragem brasileira e descobriu cada jeitinho que, sendo da periferia ou não, tornava o Brasil um país único.

Então o que há de novo nesse livro que evidencia o real brasileiro? O ineditismo do "Guia(..)" é a ambientação e o trato dado às questões que, até então, não eram abordadas. Talvez o elitismo literário (sempre existente nas artes) esteja tentando – numa corrente que cresce não só com Faustini, mas também com autores como Écio Salles, entre outros - reverter esse estigma e falar de situações verdadeiramente brasileiras.

Não posso falar que, enfim, essa corrente irá trazer uma literatura genuinamente brasileira, despida de influências fúteis, num país acostumado a vestir-se de banalidade alheia. Mas é certo que buscando o nosso próprio jeitinho, nossa própria identidade, encontraremos a universalidade literária buscada por todo artista.

Assim, qualquer regionalismo será transcendido e, talvez, o livro se torne popular e realmente lido por todos. Aí, livros como Vale Quanto Pesa, de Silviano Santiago, não precisem mais serem escritos para evidenciar o tratamento ridículo que o livro se encontra no Brasil.

Vizinhos das celebridades

por Juliana Schiffler

Falar de um lugar tão sombrio nos faz lembrar imediatamente da morte, algo triste e melancólico. Mas em Jardim Sulacap, um pequeno bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, há quem considere que a morte proporcione vizinhos famosos. É que o Jardim da Saudade, um dos mais importantes cemitérios do estado, fica lá. E seus enterros são as únicas oportunidades que os moradores têm para ver de perto as celebridades que habitam as telas da tevê.

Foi no Jardim da Saudade que foram sepultados personalidades como a cantora Cássia Eller, a modelo Fernanda Vogel, o jornalista Tim Lopes e a cantora Dalva de Oliveira, que recentemente foi relembrada no seriado da Rede Globo “Dalva e Herivelto”. No meio da multidão ali reunida para se despedir do seu ídolo, há sempre um morador de Jardim Sulacap.


Calor do bairro

por Hosana Souza

O carnaval de Nova Iguaçu é hoje o segundo maior do Estado do Rio de Janeiro, perdemos apenas para a imbatível capital”, afirma o subsecretário de comunicação Rogério Costa, um dos principais organizadores da folia. O crescimento do carnaval no município, que coincide com o incentivo dado pelo Prefeito Lindberg Farias, movimentou ainda mais a economia local e fez com que a população começasse a preferir permanecer no município.

A mídia já percebeu o sucesso do carnaval iguaçuano e marcou presença no desfile das escolas locais em 2009, chegando ao ponto de a Bandeirantes, Rede Brasil, SBT e Record o transmitirem ao vivo. E temos, também, os expressivos números do último carnaval: 150 mil foliões em cada dia do evento, somando todos os bairros da cidade.

A falta que 'seu' Ruy faz

por Nany Rabello

O mundo dos poetas

Essa maneira autista dos poetas
Que se acastelam no esplendor dos sonhos
E fazer mundo à parte entre os ascetas
Pregando os coloridos mais risonhos.

Que a imagem sintetizam como estetas
Dando beleza aos surdos sons medonhos
E desdenham das lógicas diletas
Dos tristes empirismos enfadonhos.

E traçam lá do seu estranho mundo
Um caminho de luz e fantasia,
De sonho, de ilusão e amor fecundo,

E que vai transformando o horrendo grito
Em cristalinos sons de sinfonia,
Como estrelas vibrando no infinito...!

Ruy Afrânio Peixoto

Sabe, eu tinha cinco anos quando o conheci. Eu não sabia o que era um soneto, dois quartetos e dois tercetos, métrica perfeita da poesia. Nem sabia o que eram autistas, ascetas, e nem mesmo poetas. Mas eu sabia que gostava, pois ele era um poeta, e que o que estava escrito era lindo, e que passava horas repetindo, só pra ficar ouvindo os sons das palavras e as rimas. As rimas eu sabia o que eram, ahh se sabia! E também sabia qeu um dia eu queria ser como ele. Escrever como ele. Agradecer a ele.

Sabe, faz nove anos que ele se foi. Naquela época, eu não escrevia, não rimava, não sonhava. Naquela época, ele não era mais meu diretor. Não mandava mais me buscar na sala de aula, durante as aulas de inglês, só pra me mostrar um soneto novo. Não mais, não naquele ano. Só nos que vieram antes. Nos anos em que eu ainda não sabia o que era literatura.

Hoje eu gostaria de agradecer. Ele foi poeta, pintor, escritor, advogado, formador de opiniões, diretor do melhor colégio que uma criança poderia estuda, foi ídolo, foi inspirador, foi meu amigo. Hoje eu sinto falta dele, como sentia antes, só que doendo mais.

Hoje eu queria mais do que nunca que ele soubesse que eu estou bem. Que aprendi a fazer meus próprios versos, que descobri minha maneira autista e o mundo dos poetas. Que hoje tem um novo mestre na minha vida que me inspira a crescer e fazer sempre melhor. Mas cada texto ainda é pra você, professor. Obrigada por fazer naquela época que eu sentisse com seus textos o que sinto hoje com os meus: Vida. Obrigada por ter feito parte da minha. Você faz falta, 'seu' Ruy.

 
 
 
 
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