No clima do amor

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

por Saulo Martins

"É só um ensaio", disse o Sr. Chow para a Sr.a Chan enquanto ela chorava debruçada em seu ombro com uma trilha sonora com uma música latina de fundo: esse é um dos momentos mais marcantes de Amor à flor da pele (2000), do diretor Wong Kar-Wai. Com uma atmosfera intimista de cores e palavras significativas e com atuações invejáveis, o filme conquista o espectador sem nenhuma cena de beijo, apesar de discursar sobre o amor.

O cinema oriental sofre preconceito de nós ocidentais, isso é notório. Eu mesmo, assumo, relutei muito antes de assistir esta obra. As poucas cópias asiáticas que chegam a nós nos passam as atuações caricatas e a frieza de um povo que parece mecânico. Nunca poderia imaginar que um filme feito na China pudesse criar um ambiente tão propício para o amor como Amor à flor da pele fez.
O roteiro conta a história de dois casais vizinhos: Os Chan e os Chow (o que pode causar muita confusão no início). A Sr. Chan é uma secretária e seu marido é um homem que viaja muito para o Japão. O Sr. Chow é um jornalista e a sua esposa é uma mulher que sempre faz hora extra e quase nunca encontra o marido acordado. A escolha de Wong Kar-Wai de não mostrar o rosto do Sr. Chan e da Sra. Chow é de prima importância para que o espectador se sinta distante deles assim como os seus cônjuges se sentem. A secretária e o jornalista se aproximam como busca pelo conforto da solidão, e acabam achando um no outro um lugar pra chorar quando descobrem que a Sra. Chow e o Sr. Chan estão vivendo um romance.

Pregação X Proibição

por Leandro Oliveira


“Em razão da ação proposta pelo ministério publico, a 12°câmera civil proibiu qualquer manifestação religiosa nos trens”. O seguinte aviso nas estações e nos trens orientando os usuários da rede de transporte deixou muita gente de queixo caído. Afinal por muito tempo durante o dia ou noite, sol ou chuva lá estavam os irmãos com disposição e a fé que chegava até a dar certa amolecida no coração dos mais descrentes. “Ando de trem desde que me entendo por gente. Os religiosos, os camelos, o jogo e o samba já ficaram incorporados à cultura do trem. Não consigo entender o porquê da proibição”, diz Antônio Duarte, atendente de uma rede de fast-food.

Em qualquer vagão ficamos cara a cara com a caótica situação socioeconômica brasileira Andar de trem é sentir de forma ácida, nua e crua o que aulas acadêmicas não teriam capacidade. Dividindo o espaço está um número incontável de seres humanos que ficam a se digladiar por cada palmo do vagão. E para o bem ou para o mal, a lei varreu dos trilhos o famoso bordão “sangue de Jesus tem poder”.
A proibição deixa, realmente, muitas questões em aberto o que gera inúmeras polêmicas. Há os que defendem que todo direito tem limite quando o direito alheio começa. “Imagine se cada um dos cristãos no Brasil resolver exercitar o direito de pregar?”, diz o universitário Matheus Fernandes, “Até alguns anos atrás eu tinha que competir na leitura com os gritos apaixonados dos pregadores. Aliás, Deus não é surdo! Para que ficam gritando?”, completa o rapaz que é assumidamente ateu e se sente no direito de não ouvir o culto.

 
 
 
 
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