por Jéssica de Oliveira e Marcelle Abreu
Em 1972, nasceu em Nilópolis um menino chamado Marcelo. Sua mãe lhe dera este nome em virtude de um galã de novela muito famoso da época. Mas na escola, por um hábito da professora de chamar seus alunos apenas pelo sobrenome, Marcelo passou a ser mais conhecido como Marão.
Desde muito pequeno, Marão demonstrava um talento especial para as artes, principalmente às relacionadas aos desenhos. E foi num bloquinho de papel,que o menino deu seus primeiros passos, ou melhor, rabiscos, através da técnica do Flip Book. “É onde toda animação começa”, conta ele, para explicar em seguida que uma boa animação de Flip Book tem no mínimo 30 segundos e, no máximo, um minuto.
Em 1989, ingressou no curso de engenharia industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro, já que o curso mais próximo de sua área preferida seria Publicidade. “'Animador', na época, não era considerado uma profissão”, conta. Ainda na faculdade, Marão fez um curso de Programação Visual na Escola de Belas Artes, pois havia uma Cadeira de Animação, mas nem mesmo seu professor havia trabalhado com esta técnica. “Ele dava aulas lendo um livro”, relembra.
Quando Marão estava terminando a faculdade, por volta de 1992, foi criado o festival de animação Anima Mundi, que hoje vai para sua 18° edição. Para ele, este evento foi como um divisor de águas. “Na medida que esse festival foi crescendo, junto foi a profissão”, diz. O festival começou em uma sala com 100 lugares no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e hoje atrai um público de 100 mil pessoas. “Quanto mais gente assite, maior é o intersse em aprender”.
Hoje, aos 38 anos, Marcelo Marão trabalha prestando serviços para alguns dos grandes estúdios de animação que fazem comerciais, “chamadas” de novelas da Rede Globo, além de ter seu próprio estúdio, onde realiza trabalhos menores e dá aulas.
De volta ao Iguacine
Assim como na segunda edição do Iguacine, onde apresentou o curta-metragem "O anão que virou gigante", Marão também foi figurinha carimbada na terceira edição do festival de cinema de Nova Iguaçu, com o curta "Eu queria ser um monstro" na Mostra Competitiva Nacional. “'Eu queria ser um monstro' é meu primeiro Stop Motion. Trabalhei seis meses em cima dessa animação”, diz Marão.
Segundo o animador, durante sua vida inteira quis trabalhar com personagens em forma de bonecos que, ao contrário do que parecem, não são exatamente de massa de modelar, pois é muito difícil trabalhar com esse tipo de material. “O boneco na verdade é modelado em massinha de modelar, tira-se um molde em gesso e a estrutura por dentro é de arame que é pra poder ser dobrado. Tendo o molde com o arame, fecha-o e é injetado um látex líquido (mistura de látex com cola) dentro e assim o boneco ficará como uma Barbie, com um aspecto de plástico.
Segundo ele, é um grande orgulho ver um trabalho seu ser exibido aqui na Baixada, sua terra, o que acaba por estreitar a distância entre suas produções e sua família. “Com o passar do tempo, foram surgindo mais oportunidades de trabalho e eu acabei indo morar em Copacabana. Sendo assim, meus amigos e principalmente os meus pais não viram muitas produções minhas”, conta.
Para o animador, o mais interessante do Iguacine é que ele está reunindo pessoas de diversas partes do país, além de ser realizando perto de onde ele nasceu, o que permitiu, 15 anos após ter saído da Baixada, que seus pais assistissem um pouco de seu trabalho.
Participação no evento
Quando as inscrições para o III Iguacine foram abertas, Marão avisou vários amigos seus do ramo a inscreverem seus trabalhos, porém muitos deles recusaram o convite pelo preconceito com a Baixada Fluminense. “Quando tem um festival minúsculo numa cidadezinha lá na Itália, eles vão correndo se inscrever, mas se negam a participar de um evento como este em seu próprio país, só porque é em Nova Iguaçu!”, indigna-se. “Parece que eles têm medo daqui; eu não consigo entender”.
Deixando de lado os pensamentos pré-concebidos por parte de algumas pessoas, Marão falou sobre sua atuação como júri neste sábado, 16 de abril, na Mostra Competitiva da Baixada. “Eu fiquei chocado com a qualidade dos trabalhos mostrados. É acima da média em relação aos outros estados e imagino que a evolução disso será rápida, pois, nesta edição, tiveram vários trabalhos que vão, tranquilamente, passar em outros festivais”. Marão ainda revela uma frustração: por ser júri, ele não pôde conversar com os realizadores do festival e diretores de curtas sobre o que foi exibido. “Infelizmente, só depois da premiação”.
Além de ter participado da banca de jurados, Marcelo Marão foi homenageado na noite de ontem, 18 de abril. “O mais importante, para mim, é receber uma homenagem no lugar onde nasci. As pessoas tendem a valorizar mais o que vem de fora, mas eu acho que o evento daqui muito importante e fico muito feliz por ser o Iguacine a me fazer esta homenagem”, encerra.
1 Comentários:
O Marão é uma grande figura, mega talentoso e mega simpático. Grande história, matéria excelente. Parabéns meninas. Beijos =**
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