por Josy Antunes
Na verdade, o dono do black power teve seu primeiro contato com produção de textos lá pelos oito anos de idade, quando investia todo o dinheiro que parava em suas mãos com gibis, fichas de flipper e Cheetos. "Eu lia gibi e tentava escrever", contou Rodrigo, que na época morava em Vilar dos Teles, um bairro em São João de Meriti. "Eu morava na subida de um morro, que se chamava Morro do Amor. Tinha época que era muito violento, tinha época que era muito tranquilão. Tinha vez que eu descia pra ir pra escola e via defunto caído no chão e um monte de gente em volta. Mas eu era moleque e não entendia", descreve o filho único de Regina Célia Caetano, dona de casa e Helio Pereira da Silva, soldador de PVC.
"Com oito anos, minha mãe comprou um terreno da minha tia, pra gente morar aqui", explica Rodrigo, falando sobre a casa no bairro São Francisco, em Belford Roxo - cidade onde anos depois iniciaria seu trajeto na área de produção cultural. "Nesse caminho de construção da casa, eu vim morar com a minha tia pra ir me adaptando. Eu comecei a falar 'moro aqui' com um ano de adaptação, aos nove anos de idade", conta ele, apontando que um dos pontos mais difíceis na mudança foi a diferença no percuso de casa pra escola. Em Vilar dos Teles, bastavam cinco minutos. Em São Francisco, pelo menos 20 minutos eram dispensados para chegar no Centro Educacional Vanda Garcia. "Na 7ª série eu fui pra escola pública. Foi uma merda".
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Rodrigo e a banda Armless Jack |
2008, ano mais produtivo de Rodrigo como músico, foi também um dos anos de mais dúvidas no campo profissional. Tentando passar no vestibular desde o 3º ano do ensino médio, a dúvida estava entre os cursos de história e produção fonográfica. "Eu sempre me inscrevia na UERJ e esquecia dos outros vestibulares", lembra Rodrigo que, nesse período, ingressou no Projeto Iguaçu, realizado pela FASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional. "Era um projeto de limpeza de rios. Meu trabalho era chegar nos moradores e explicar que aconteceriam algumas obras. Foi meu primeiro trabalho sério". Na mesma época, frequentou também o pré-vestibular, onde conheceu pessoas como Paulo Roberto, Thiago Nunes e Rafael Andrade. "Tudo o que eu tenho de esquerda a culpa é dele", aponta Rodrigo sobre o amigo Rafael. Os quatro formavam o grupo JAFT - Jovens em Ação Formando e Transformando. O JAFT, além da produção de fanzines e das ideias comuns a jovens que querem, de alguma forma, mudar o mundo, queria fazer um evento que beneficiasse a Baixada Fluminense de forma ampla. O grupo criou então o projeto para o "Manifesto Cultural", um evento com música e debates que seria realizado no espaço em frente ao Batalhão da Polícia Militar da cidade, em julho de 2008. "Eu tinha chamado uma banda pra tocar, a Dhe Liras. O Diego Jovanholi tocava guitarra com eles na época. Só que acabou que não deu pra banda tocar, porque o cara do som não chegou na hora. Fizemos o evento muito na inocência. Acho que foi a coisa mais inocente que eu fiz, achando que ia dar certo. Chamamos o Fala Baixada, fomos em todos os colégios de Belford Roxo entregar flyers", narra Rodrigo, sobre sua primeira experiência e sua primeira frustração na produção de um evento cultural.
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O trote do curso de produção cultural. Foto por Louise Teixeira. |
O terraço abrigava ainda as gravações do podcast "Loud Channel" e as primeiras ideias a respeito de um grupo que se chamaria "Pública alternativa", que tinha por finalidade discutir e produzir ações relacionadas à cultura. Alguns sábados depois, Rodrigo aceitou tocar baixo na banda "Alícia" - a banda "séria" do Diego, onde a princípio entraria só para "quebrar um galho". "Meio que sem querer, eu virei efetivo", lembra. "A gente queria tocar, mas não tinha espaço. Eu já estava cansado de tocar no terraço do Diego. Daí surgiu a ideia do Cinerock", rememora Rodrigo, sobre o projeto que acabou tomando a frente do "Tela Verde", projeto inicial sobre sustentabilidade. "Através do Cinerock eu conheci o Coletivo Anti Cinema, o Matheus Topine, que era do Cineclube Goteira e outros cineclubes".
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A terceira edição do Cinerock, no SESC Nova Iguaçu |
Atualmente, Rodrigo toca baixo na banda Mazé, composta pelo mesmo Diego Jovanholi, e pelos músicos Dinho Brito, Giva Abreu e Vagner Vieira. Com o último deles, Vagner, dividiu uma oficina intitulada "Cineclube", numa escola municipal de Mesquita, onde ministravam aulas de vídeo. A oficina foi iniciada em meados de 2010 e garantia a Rodrigo o dinheiro para as xerox da faculdade e para o ônibus pro Donana aos domingos. "Era mais um trabalho voluntário. Só era ruim porque você vê muitos casos de querer ajudar, mas não pode", afirma Rodrigo, em relação as crianças com as quais conviveu.
Também através do Orkut - rede social responsável pela aproximação com Diego Jovanholi - conheceu a igreja "Intervenção Rio", e soube que havia uma unidade da mesma em Belford Roxo. "Meu 'bum' de fé foi lá. Eu sempre tive em mente que a fé não precisava de regras". Além da Mazé, da Intervenção, da faculdade, do Cultura NI e do Pública Alternativa, Rodrigo participa do projeto PET - Conexões de Saberes na Baixada Fluminense. O baixista do black power, que enrola o cabelo com os dedos quando está nervoso ou pensativo hoje assina como "Cristão informal, músico, estudante e profissional das artes e entretenimento".
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Rodrigo e Dinho Brito, na banda Mazé |
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