Olhos atentos à tradição

sábado, 24 de outubro de 2009

por Larissa Leotério e Jefferson Loyola

Quem nos mostra que é importante olhar pra dentro de Nova Iguaçu com olhos e ouvidos atentos é alguém que nem mora na cidade: é a Iyalorisá Isabel de Oyá. Zeladora do Ilê de Oyá há 22 anos, ela acredita que Belford Roxo, a cidade onde vive, ainda é muito dependente de Nova Iguaçu. “A gente só tem a ganhar buscando sabedoria”, diz ela, justificando sua visita à Conferência Municipal de Cultura na manhã deste domingo.

Sobre a importância de conferências e fóruns culturais, a Iyalorisá conta que é preciso fazer com que as pessoas sintam orgulho de sua religião: “Quando alguém esconde sua religião para se beneficiar de alguma coisa, já está tendo preconceito consigo mesmo”, afirma. Ela acredita também que o preconceito vai sempre existir, com quaisquer religiões ou movimentos. Mas os congressos ajudam a entender e a aceitar.

Além da aceitação, outra bandeira que mãe Isabel levanta é a da conservação da tradição cultural dentro das casas de santo. E é por meio do Pontinho de Cultura que ela tem em Belford Roxo, a Associação Cultural e Recreativa Afoxé Raízes Africanas. O Afoxé surgiu dentro de seu Ilê quando se desvinculou do Afoxé Filhos de Gandhi, no dia 8 de dezembro de 2002. Além de dezembro ser o mês das Iyabás, o Afoxé é dedicado a Oxum, em homenagem a sua falecida mãe de santo, Dona Délia de Oxum.

“Hoje, muitos não se preocupam com políticas públicas, como a institucionalização”, observa. Para participar de editais públicos, os Ilês precisam ter CNPJ. “Uma casa sem CNPJ é uma pessoa sem identidade”, compara. A regularização faz com que o governo tenha condições de auxiliar as casas de santo. “Orgulho-me hoje de ter 34 anos de iniciada no candomblé e ter recebido a Digina (nome ritual) que Oyá me trouxe: Oyáguerê”, finaliza.

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