por Camilla Medeiros
No longo debate do GT (Grupo de Trabalho) do Eixo Cultura, Cidade e Cidadania, Josenir de Fátima da Silva, popularmente conhecida por Irmã Fátima, destacou uma informação que muito tem a dizer sobre a cara da nossa cidade: as áreas rurais.
No ano de 1997 uma deliberação da Prefeitura de Nova Iguaçu ignorou um dado muito concreto: Nova Iguaçu possui áreas rurais. A partir de então, iniciou-se uma luta para comprovar que Nova Iguaçu possui áreas rurais. Sindicatos, vereadores e a sociedade civil dessas áreas se mobilizaram e quase dez anos depois, 2006, o atual prefeito Lindberg Farias sancionou uma lei reconhecendo doze assentamentos rurais na cidade.
Numa entrevista informal, no pátio do Espaço Cultural Sylvio Monteiro, Irmã Fátima, Presidente da Associação Rural Regional de Campo Alegre, presidente da ONG Sociedade Beneficente de Campo Alegre e membro da Comissão de Cultura de Nova Iguaçu, revelou uma outra face da nossa cidade.
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Dentro das discussões da III Conferência Cultural, a inclusão de mais personagens no cenário cultural da cidade foi uma das pautas principais. Quais são as suas expectativas?
“Minha bandeira aqui é lutar pela integração entre as áreas rurais e urbanas de Nova Iguaçu. Dentro da mesma cidade temos esses dois mundos, que ficaram sem diálogo durante muito tempo. Certas coisas que acontecem num ambiente não são divulgadas no outro. Por exemplo, você sabia que essas áreas rurais de Nova Iguaçu foram excluídas? Muita gente aqui não sabe disso também.”
Como é o trabalho da sua ONG?
“Dentro da ONG temos uma creche comunitária chamada Centro de Educação Infantil Comunitário Semente do Amor. Através dessa, creche realizamos anualmente a Festa da Roça, para resgatar a identidade da gente de interior. Temos danças sertanejas, com forró, comida típicas. Não é festa junina não, é festa na roça mesmo! Além disso, todos os anos comemoramos o aniversário do nosso assentamento. No dia 9 de janeiro, reunimos todos os moradores para um grande café da manhã, com os produtos da terra, que a comunidade cultiva. Nesse dia fazemos questão de lembrar os mais novos da luta que foi para conquistar a terra, e nos mobilizamos frente o governo para reivindicar as mudanças, e fazer um balanço do que foi feito, do que andou, do que não andou. Além de chamar a mídia para expor tudo o que é feito.”
Qual foi o resultado dessa exclusão dos doze assentamentos de Nova Iguaçu?
“Quando aconteceu essa exclusão, não tínhamos nenhuma ligação com a cidade a não ser o nome. Isso só consolidou a realidade que já existia. Sempre nos deportávamos para Queimados para tudo, médico, compras, enfim, a única coisa que ligava nossa região à cidade era uma escola da prefeitura de Nova Iguaçu, pois nem ônibus para cá temos. Até hoje precisamos ir para Queimados e depois vir para Nova Iguaçu.
A maioria das pessoas transferiu seus títulos eleitorais para Queimados, que foi a cidade que acolheu essa comunidade. Como eu vou votar em uma cidade que me excluiu? Até eu mesmo transferi meu título para Queimados.”
Qual foi o resultado do reconhecimento desses doze assentamentos?
“Quando o prefeito Lindberg Farias assinou a lei que reconheceu nossa região, imediatamente percebemos as mudanças. Não falo isso para engrandecer ninguém, mas depois de tanto tempo abandonados essa ida do prefeito a Campo Alegre foi essencial para que a gente se identificasse mais com a cidade. E soubéssemos que nossa existência para a cidade era importante. Formou-se uma aliança entre a nossa comunidade e a Prefeitura de Nova Iguaçu. Atualmente temos uma sessão eleitoral em Campo Alegre, da qual eu fui convidada para ser presidente, e todos votam em Nova Iguaçu novamente. Mas antes mesmo que tivéssemos essa sessão, a comunidade se interessou em transferir de volta seus títulos para a cidade, pois estávamos preocupadas com a possível mudança na gestão da Prefeitura, e o retrocesso frente aos avanços que conseguimos.”
Que impressão teve dessa conferência?
“Creio que o meu objetivo foi cumprido. As áreas rurais estão sendo visadas nessas propostas, e espero que a gente possa partilhar em breve da mesma política de incentivo cultural que as áreas urbanas possuem.”
A outra face da cidade
sábado, 24 de outubro de 2009
Marcadores: Camilla Medeiros, GTs
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