por Joaquim Tavares
Crítica Vozes
Quem nunca se fez perguntas sobre a vida e a sua essência? De onde viemos? Para onde vamos? Qual a verdadeira razão para nossa existência ?
Porém, ninguém consegue achar as respostas para todas essas perguntas e isso é normal... ou não? O que é normal? Para que ser normal? Quem define a normalidade?
O curta 'Vozes' retrata essa vida de dúvidas e indagações vividas por pessoas com transtornos psiquiátricos diversos.
Falas do filme nos remetem a pensar o que é a loucura propriamente dita. Assisti-lo é participar de uma imersão na realidade de um problema extremamente complexo e nem sempre levado tão à sério, como deveria.
'O que é real?''O que é melhor ou o que é pior?''O que é certo e o que é errado?''Quem define a loucura?' Todas essas perguntas são feitas no filme num tom reflexivo que nos faz repensar sobre tudo.
'Vozes' é composto por falas de pessoas reais com problemas psicológicos que frequentam clínicas e hospitais psiquiátricos. Isso dá ainda mais força à intenção criada pelos diretores – nos confrontar com perguntas frequentes da nossa vida que também são frequentes na vida de um 'louco'. Mas o que é um 'louco' mesmo?
'Todo mundo é meio louco e meio normal também'. Acho que realmente não conseguimos fugir dessa afirmação de uma das diretoras – Luiza Sontoloni – explicando que a real intenção do curta é falar sobre a loucura sem mostrar o louco em si.
O filme pode ser representado por uma única cena. Uma mulher nua deitada no chão, sendo 'bombardeada' por várias pessoas; ao invés de bombas a munição é a tinta, representando as opiniões alheias que a atingem sem nenhuma possibilidade de defesa. E é exatamente essa a leitura da loucura na sociedade: dentro de um mar de opiniões e conceitos, é criado um conceito do que é e do que não é um louco. Conceito esse totalmente vago e questionável.
Ninguém pode julgar ninguém, simplesmente porque não existe uma verdade única para as coisas. Logo, ninguém sabe o que vem a ser a loucura de verdade. É um conceito muito amplo e acusando uma pessoa de ser 'louca', podemos, automaticamente, acusarmos a nós mesmos!
Ainda no filme, uma fala estrondece e se torna um zumbido para quem ouve: 'A pior loucura é a falta do amor.' Será mesmo? Quem duvida? Por que duvidar?
Na verdade, estamos todos sujeitos a momentos de 'loucos'. No entanto, isso não é uma coisa ruim e é esse o maior problema enfrentado por nós, os 'loucos'!
2 Comentários:
Apesar de não ter visto o filme, a crítica acima foi bem escrita de modo que fala do filme e do tema tratado de forma que seja completamente compreensível além da boa estrutura. E são questionamentos reais, que em algum momento todos se fazem e convivem com os mesmos por muito tempo.
Parabéns aos críticos que se dedicaram para o trabalho, ficou ótimo.
Abraços,
Carol
Sendo a loucura um tema que muito me cativa, não tive como deixar de comentar sobre este seu texto.
Vejo a loucura como um grande paradoxo, onde a psicologia nunca poderá revelar toda a verdade sobre o tema, sendo a própria loucura a grande detentora de toda a verdade. Denominamos louco, todo indivíduo que perdeu a razão, mas será pecado viver só com a emoção? Será que ele está doente da mente, ou é apenas indivíduo que age de maneira diferente dos demais, podendo a loucura, ser simplesmente uma maneira diferente de ser julgado pela sociedade.
Não seguir um padrão já pré-definido poderia ser algo louco? Quando criança, podemos ser o que somos e ninguém nos taxa de loucos, criamos o nosso mundo, vivemos em nossas fantasias e pior, damos vida a elas. Talvez pudéssemos dizer que tudo é loucura nessa nossa vida, mas estar consciente dessa loucura é total sanidade!
Este curta, “Vozes”, nos faz repensar sobre essa nossa ditadura da loucura, passando agora, a ver as coisas por outro ângulo, onde nos colocamos no lugar do outro, talvez assim, podemos ter uma visão mais humana e menos técnica. Porque uma coisa é achar que estamos no caminho certo, outra é achar que o nosso caminho é o único! E quem sou eu, para contradizer as palavras do nosso grande Aristóteles, que afirmava, que “nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura”.
Parabéns pelo trabalho, o texto ficou simplismente magnífico, nos convidando a um diálogo constante!
Beijos,
Patty
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